Tuesday, May 30, 2006

Receita de Jardinagem

© Nathan de Castro


O grande amor não é uma rosa.
O grande amor é uma roseira. Ele também tem espinhos,
mas não ferem quando tratados com cuidado.
Uma roseira precisa de carinhos.
Há que se regá-la diariamente e cantar músicas de amor.
Convém saber os agrados secretos do grande amor
e declamar poemas ao som de uma orquestra sinfônica.
De preferência, músicas de Chopin, Bach, Beethoven,
Vivaldi, Ravel ou Tchaikovsky, executadas pela
filarmônica de Viena.
As plantas gostam de música e suas folhas gostam dos
afagos das notas musicais.
É importante saber da raiz e ao menor sinal de pragas,
formigas, lagartas, ervas-daninhas e, ah! Os terríveis pulgões... –
Cuidar do canteiro e recolher com as próprias mãos
tudo quanto possa atrapalhar a floração.
Nunca use agrotóxico! Tratamento de choque pode matar
o grande amor. O adubo do sábio toque é o mais indicado.
Borboletas, abelhas, joaninhas e beija-flores são bem vindos.
As grandes amizades fortalecem a seiva.
Nunca se esqueça de podar a roseira uma vez por ano.
É importantíssimo! Quando os galhos crescem em excesso
é sinal de que o desmazelo está a tomar conta dos espaços.
Não é nada fácil a peleja de um jardineiro e, mesmo com
todos esses cuidados, existem, ainda, os inimigos naturais:
tempestades, chuvas de granizo, secas e tantos outros...
Finalmente, não colha as rosas ainda em botão.
Deixe que elas floresçam na roseira.
Elas carecem de enfeitar os olhos e os sonhos
dos jovens namorados em busca do grande amor.
As rosas têm manias de poesia e, assim como os poetas,
buscam o poema de pétalas perfeitas para eternizar
o orvalho e o perfume nos olhos de um novo e grande amor.

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