Brincar com as Palavras - Nathan de Castro // Brincar com Poetas - Lílian Maial
Brincar com as Palavras
© Nathan de Castro
Para escrever um poema com sabor de céu
há que brincar com as palavras.
Brincar com as palavras é fazê-las
dizer sim.
A palavra que diz sim está sempre
com um sorriso no rosto, mesmo na tristeza
das tardes de verão.
Mesmo quando lança o seu olhar assustado
sobre o poema de um planeta poluído
e despetalado.
Mesmo quando a saudade, a distância e a
solidão teimam em andar de mãos dadas
com as nuvens da estação.
A palavra é criança travessa, de calça curta,
sem camisa e pés no chão.
Criança que solta pipa, joga bola de gude,
corre pelos pomares da poesia e sobe no
topo da mangueira, para colher o único fruto
maduro. Palavra temporão.
As palavras gostam da chuva, de saltar
as poças d’água e caminhar nas enxurradas,
chutando o vento e sorrindo do arco-íris.
Às vezes, elas nos chamam a brincar de
pique-esconde. Ficamos horas a buscá-las
em pensamento, mas quando não querem...
Ponto. Melhor é deixar o verso de lado
e partir para o descanso nos lençóis da noite.
O sono sempre encontra a palavra no travesseiro
e acordar com a palavra certa é presente de sol
para os olhos de um poeta.
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Brincar com Poetas
© Lílian Maial
Para entender um poema com sabor de mel
há que brincar com o poeta.
Brincar com poetas é fazê-los ouvir as letras.
Ele escreve a palavra, mas nem sempre ouve
as letras.
Para ouvir as letras, há que ser surdo de regras,
há que ser cego de nomes,
há que ser mudo de risos.
Mesmo quando vê o vazio dos dias,
a lacuna de idéias,
a maldade dos homens.
Mesmo quando rabisca no peito um soneto,
quando entoa na alma a canção,
e insiste em ver lá dentro,
solitário coração.
O poeta é um velho levado,
meio senil, meio sério, meio assanhado,
mexendo com as rimas fáceis,
sonhando com metáforas virgens.
É um idoso sem tempo,
que não solta e nem prende, somente.
Ele vira de ponta-cabeça todas as vezes que
escreve.
Parece palhaço, parece parado, parece pirado.
Brincar com poeta é perigoso,
porque poeta leva tudo na ponta da faca,
na ponta da língua,
na própria palavra de dois gumes.
Poeta sonha que sonha,
enquanto diz as verdades e engole a peçonha.
Sem tempo ou lugar, poeta também gosta de brincar.
Ele brinca de estrela,
ele pisca a paleta,
ele chove no rio,
ele chora no mar,
ele pula a carniça que o verso mandar.
O poeta se esconde no pique da praça,
leva tombo nos cantos,
faz rir de pirraça.
Umas vezes é triste,
outra vez é moleque,
um tinhoso carente,
um castelo sem vela.
Ele finge que sofre,
ele mente que ri,
mas quando a noite chega,
ele olha pra lua,
ele rima comigo,
faz preces nos morros,
recosta na sombra,
que a noite é tão clara,
que o céu é tão grande,
que o sonho é tão logo,
que o sono já vem.
Brincar com poeta é conto de fada,
é cair na cilada de ver só o belo,
mas eu, a palavra, a pena e o passo,
sou mais como um trapo nos braços da fera.
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