Tuesday, October 24, 2006

Pedra de Paixão


© Nathan de Castro


Lá fora tem um céu de primavera mesclado
de verão.
O inverno passou em branco na pequena rua

Irmã Dulce e os sinais das flores, que tanto
me encantaram na infância, parecem-me distantes.
Hoje, os olhos do poema pintaram na minha tela.

Pintaram com um colorido de orquídeas cultivadas
distantes das luzes e emoções dos riachos e das
cachoeiras dos meus dias.
Tem um vazio de mil sonhos pingando mil versos

de beijos lançados ao vento nas dezenas de
estações passadas...
Os pombos declamam poemas no teto do edifício e

lançam dejetos de estrelas opacas no silêncio
da sacada.
Poema sujo em plena madrugada!
O virtual toma conta do verso livre e já não me

lembro dos abraços e beijos no alpendre de verdes
samambaias.
Não tem música!... Não tem as pedras das serenatas

e o gozo do luar lambendo as paredes caiadas...
Tudo é concreto na explosão do verso que me habita!
Um disco voador pousou um canto de outro mundo

dentro do meu peito e, a lágrima da noite secou
ao som dos milhares de anos-luz que não vivemos.
Tudo é distância nessa estação espacial que guarda
a esperança das páginas de primaveras tantas.
Na viagem, perdi todas as estações primaveris,

mas tenho a orquídea da palavra amiga, a rosa
vermelha, e o poema que canta a espera à luz de
cada dia.
Isso só pode ser coisa de paixão e, para a paixão

não existe tempo ou espaço...
Existe a poesia da saudade.
Existe a poesia do beijo no olhar.
Existe a poesia do mistério da vida e a sensação

da rima cumprida para a eternidade.
Não sabes o quanto amei os teus seios, a umidade

rubra dos lábios nas tardes de outonos, e os sumos
da tua poesia!
Eu morro de amor a cada dose de estrelas!
Saudade é o ponto que busco no Universo!
Eu vou, ou vôo!
Em todas as cores da euforia.
O meu poeta é cascata, pedras e cachoeiras.

Habitat perfeito para as orquídeas e para as coisa
da paixão.
O amor é coisa boba de eternidade!...
Pedra silenciosa que mora no meu coração vagabundo.
Pedra de paixão.
Coisa tola, essa de escrever e reverenciar saudades.

3 Comments:

Blogger Lucilaine de Fátima said...

"Coisa tola, essa de escrever e reverenciar saudades."

Se fosse tola, como viveria o poeta sem isso? sufocado de sentimentos?

Quem sente o que um poeta diz, se identifica e fica feliz por saber não ser o único no universo a ter aquelas sensações. Isso é bom e você me proporciona em vários sonetos e neste poema também.

Veja como sua poesia é carregada de importância.

Beijos mil!

October 26, 2006 6:24 AM  
Anonymous Anonymous said...

Nathan, hoje abristes o relicário de tuas memórias de infância? Deixastes sair a "criança natural",
que todos teimamos em esconder?
Não te recrimines por fazê-lo...
És ditoso por conseguí-lo...bjs da:
Lucy

October 26, 2006 9:17 PM  
Blogger Lílian Maial said...

Lindo esse poema, Nathan!
"Coisa tola, essa de escrever e reverenciar saudades."
Só esse verso valeu o poema!
beijocas,
Maial

October 29, 2006 11:37 AM  

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