Tuesday, October 31, 2006

Sampa à Mineira


© Nathan de Castro


Estação Tietê...
Um poeta mineiro entra calmamente no metrô

paulistano.
Tem muita gente... Gente de todos os

olhares, de todos os passos, de todos os
sonhos. Trabalhadores, retirantes,
estudantes, vagabundos. Poetas da

metrópole que dorme de terno e gravata,
de chapéu de palha, de mochila nas costas
e de farrapos de aguardente e cola.
Todos em busca da Sé.
Da Sé vai-se a qualquer parte da vida, a

qualquer parte da morte, a qualquer parte
do destino de viadutos e engarrafamentos.
Tem um grito de solidão no céu de chaminés,

um soluço de fumaça nos olhos vermelhos e
um brilho de garoa nos cabelos da menina.
Menina paulistana. Aquela, mesma, da

“deselegância discreta”, que Caetano cantou
no cruzamento da avenida Ipiranga e São João.
Estação da Sé...
Tem pouco espaço. Pouco espaço para os passos

apressados.
O destino pede passagem, e poeta mineiro que

se preze, não perde o trem. Adapta-se,
facilmente, ao ritmo do poema.
Poema livre e recuperado da Estação da Luz.
Poema de concreto pichado por todos os cantos.
Poema maquiado nos porões da ditadura.
Poema modernista da Avenida Paulista.
Poema verde do Ibirapuera.
Poema das canções de tantas Marias.
São tantos, que a vida acontece sem palavras

e acenos.
Mas um encontro de poetas espalha versos de

palavras e acenos nos jardins paulistanos.
Talvez, por ironia, no restaurante:

À Mineira.

2 Comments:

Blogger Lucilaine de Fátima said...

Prefiro minhas gerais de Minas Gerais. Ouro Preto, Mariana e etc...
Mas, vc enxergou poesia naquele caos de SP, estive pelos lugares citados, andei nos metrôs lotados e não abro mão do meu cantinho.
Ontem mesmo comia pamonha caseira... hummmmmmmmm !
Não foi de bobeira que citou o restaurante à mineira no final do poema!
Mas, mesmo assim ficou bonito!
beijos,
Lu

November 03, 2006 8:12 AM  
Anonymous Anonymous said...

Oi, Nathan!!!
Lindo, lindo, lindo!!!
Vc me deixa sem palavras, vc é mestre. Parabéns!!!
Gostei de todas.
M Helena

November 19, 2006 10:35 PM  

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