A Árvore Tombada
© Nathan de Castro
Tem uma árvore tombada na colina. A gente nota que ela já chorou toda a seiva e, provavelmente, vai servir de lenha para alguma fogueira, algum fogão ou alguma lareira. A árvore tombada desnuda-se, involuntariamente, com os efeitos do clima: é sol, é chuva, é dia, é noite, e lá está a árvore tombada... A cada dia mais frágil, mais silenciosa e mais vazia. Ela já não se lembra dos perfumes que espalhava nas tardes primaveris, não se lembra das mudanças das estações, da alegria dos galhos ao balanço do vento e dos alegres pássaros que faziam os seus ninhos por entre as folhagens verdejantes. Como era belo o viver!... Como era bom sentir a vida brotar por entre os galhos. Que dizer dos frutos?... Daqueles garotos travessos que subiam nos galhos, colhiam os frutos maduros e se lambuzavam com o suco e a polpa?... Sim, tem uma árvore tombada na colina. É triste ver que a árvore não tombou por vontade própria. Dói saber que foi lenta a sua agonia. Os sinais dos golpes de machado ainda podem ser vistos no tronco. Sim, tem uma árvore tombada na colina e nada posso fazer para curar essa dor de poema inacabado.
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