Tuesday, January 16, 2007

A Grua Amarela

© Nathan de Castro


Tem uma grua amarela com as garras estendidas
sobre a cidade de São Paulo.
O cenário em nada lembra as maquetes da obra.
O cartão postal exibido nos noticiários da TV é assustador.
Pela primeira vez as obras do metrô paulistano foram
terceirizadas... E ponto.A tragédia anunciada tem bem
ao centro o símbolo da cidade grande.
São tantos os exemplos de obras terceirizadas
construídas com material de qualidade duvidosa e sem
muitos critérios técnicos, que sempre vem a pergunta:
__Vale a pena?... Até onde vai a ganância dos grandes
empresários deste país?
Todos sabem que o solo próximo à marginal Pinheiros é
um solo pobre, sem sustentação e, mesmo assim, para
economizar, optou-se pelo túnel sob o rio, quando o indicado
por qualquer engenheiro seria o metrô de superfície.
Tem um micro-ônibus navegando de submarino na lama da cratera
e vidas humanas perdidas e tantas outras abaladas pela
incompetência e falta de escrúpulos dos nossos empresários
e governantes.
Tantos sonhos perdidos, tantas histórias nos escombros...
Rachaduras nas paredes das casas...
Rachaduras nas paredes do peito de centenas de moradores.
Em pouco tempo as rachaduras nas casas serão maquiadas
e tudo volta ao normal.Normal?... E quem vai consertar as
rachaduras no peito dos moradores, parentes e amigos das vítimas?
Quem vai apagar a imagem da grua amarela com suas garras
estendidas para uma cidade já tão sofrida pela falta de segurança?
Enquanto isso, a lama lançada por uma mineradora em Minas,
continua o seu trajeto rumo ao mar... Apenas mais uma tragédia
anunciada e tratada com descaso pelos nossos empresários e
governantes...
O homem segue a brincar de “Todo Poderoso”.
Segue a brincar de construir o planeta à sua imagem e semelhança.
A Terra chora, o Universo soluça, o Sol sorri e a Lua continua na sua
sina de poesia.
Tem uma Lua de esperança no céu de janeiro e uma grua amarela
com suas garras estendidas sobre a cidade de São Paulo.

Sunday, January 07, 2007

Para Nunca Mais Dizer Adeus


© Nathan de Castro


Quando relembro os nossos dias de canções e abraços,
vejo-me nos espaços dos poemas que perdie
e a minha caminhada segue o rumo dos teus passos,
como a buscar nos sonhos o sorriso que não vi.
Não sei se foi sorriso ou se uma lágrima brotou,
só sei desta tristeza que a saudade me deixou.

Para esquecer o brilho que guardei do teu olhar,
um dia eu disse adeus e o tempo veio me dizer
das rugas que não sei e dos cabelos ao luar,
depois de tantos anos sem o nosso amanhecer.
Não sei se foram anos ou se o tempo adormeceu,
só sei desta saudade do beijo que se perdeu.

Brancos cabelos soltos ao luar
e os nossos passos lentos se encontraram
no vento que estas rugas ensinaram,
deixando-me os sonetos de sonhar.

O sonho é uma lágrima que brota
dos olhos, que aprendi a esquecer,
na solidão do beijo à minha porta,
batendo esta saudade de viver.

Luar-te-ei nos versos de lembranças,
nas danças encantadas das estrelas.
Para estrelar canteiros de esperanças

espalharei sementes pela estrada,
como a plantar palavras pra vivê-las,
e nunca mais o adeus na caminhada.