Wednesday, May 31, 2006

Haibun da Minha Rua

© Nathan de Castro


Às vezes vou lá fora brincar de realidade.
Parece-me que nunca sou bem recebido
quando atravesso os limites da minha rua.

Tem festa no mato,
tiziu, feliz, bate as asas –
convite aos amigos.

Esta já se acostumou com meus passos distraídos e com os olhos
à procura de um novo verso escondido no mato das calçadas,

No mato florido,
passarim de coleira
canta a liberdade.

nos terrenos baldios ao lado ou no bosque em frente.

Cachos de mamona
no terreno baldio –
lembranças de guerras
.

O ipê-amarelo,
exibindo um broto verde,
renasce das cinzas.

Sempre aparece um verso perdido por aqui.
As árvores do bosque em frente, também, pingam haicais...

Ninho abandonado
na sibipiruna em flor -
pardal tomou posse.

No alto da colina,
a árvore de folhas novas
tem casa de João-de-barro.


Enquanto isso, descendo a ladeira...

Cão vira-lata
com a língua de fora –
tarde ensolarada.

Tuesday, May 30, 2006

Hoje Eu Quero Te Amar

© Nathan de Castro


Hoje eu quero te amar como quem ama
as canções, feito a estrela Natureza
ama as flores e em luzes se embeleza,
quando o dia amanhece em nossa cama.

Hoje eu quero te amar na profundeza
do oceano que o céu, ora declama
com seu canto feliz, da eterna chama,
que um amante procura em sua presa.

Coroar-te, do amor: minha Princesa,
e na glória do sol que se proclama:
mensageiro das coisas da paixão,

revestir teu sorriso com a nobreza
do momento do gozo que derrama,
sobre nós, doces lavas de um vulcão.

SONNETROIS

Seu beijo é um poema sem censura,
sem rima, sem guitarra e inacabado...
Sem ritmo, sem sons e perturbado,
como a buscar um verso de estrutura.


O sumo que me escorre pela boca
em dias de esperança adormecida,
em gosto da poesia em mim tão pouca
e o cheiro da manhã quase esquecida.


Dedilho essa guitarra, corda-a-corda,
a ver se o sumo escorre pela rima.
Seu beijo é qual manhã que não se acorda,
em lábios que sussurram “mais em cima”.


Atrapalhado, o verso pede colo
na palavra sofrida que o devora
e neste emaranhado eu me enrolo
e sinto que a paixão perdeu a hora.


Encharco esse langor por entre os dentes,
aflita por teu sonho em meu viver.
Teus lábios junto aos meus, sobreviventes,
e a língua decifrando o teu sorver.


De colo o verso muda, atrapalhado,
e a rima em outros dentes se mistura,
o metro, em langor, jaz encharcado,
perdida fez-se a hora da loucura...


Procuro nos sonetos as respostas,
encontro uma lembrança corroída
por beijos disfarçados e em apostas.


Não há verso mais puro que o teu
ou rima mais completa que o desejo,
sonetos que hoje a ti hei de ofertar.


Que venham teus sonetos, de mãos postas,
no beijo que revezo em suas costas,
com outros corroídos de lembranças


perdidas... Sem canção, sem garantia
de encontrar nova rima pretendida
no olhar que busca um sonho na poesia.


Pois traze-me na estrofe sem pudores,
os braços que me pintarão de cores,
poemas que não pude recitar.


Então que silencie, nada fale,
pois quando o verso finda, o que vale
é ver que mesmo muda nos alcança.


Nathan de Castro
Lílian Maial
Antoniel Campos

O Meu Amor

© Nathan de Castro


O meu amor tem mechas de poesia
que saltam sobre as telas da canção
e quando toco as mãos, a sinfonia
dos beijos toca as harpas da paixão.

O meu amor tem sol na melodia
que salta dos seus olhos, e a emoção
da rouca voz que sabe a sintonia
da paz, após o encanto da explosão.

O meu amor é coisa antiga e é coisa
nova. Vem de outros tempos e ora poisa
no meu silêncio e invade a alma poeta.

O meu amor é a Estrela que me chama,
acende a chama e em versos se declama...
Soneto da paixão que me completa!

Lição de Drummond

© Lílian Maial


Em sonhos de poeta eu já te amava,
e a lua, enciumada, foi minguando.
A luz que iluminava a minha estrada,
brotava dos teus olhos de acalanto.

O amor se revelava em entrelinhas,
queimando a solidão de noites frias.
Teus olhos acenavam, mas não vinhas,
senão nas rimas mudas que fazias.

Por que tu não aprendes com Drummond,
agora que os motivos dele entendes?
Será que não consegues ver o dom

dos mestres que te inspiram sóis poentes?
Quem sabe a pedra saia do caminho,
se incruste no meu peito passarinho?

Caveiras de Abóboras Sorridentes

© Nathan de Castro


Hoje eu acordei com uma frase na cabeça:
— Caveiras de abóboras sorridentes.
Lembranças das férias de julho,
brincadeiras de um moleque de abacateiros,
jabuticabeiras, galos de briga e pipas.
Pipas de velhos jornais no céu de Patrocínio e caveiras
de abóboras sorridentes, iluminadas por velas,
assustando os terrenos baldios da cidade.
Moleque que treinava para poeta, cavando
cavernas e construindo casas de bambu e pita.
Não existiam vazios.
Existia a mania da poesia completa
e o desfile de brincadeiras ladeira abaixo,
em carrinhos de rolimãs.

Certo dia, eu vi um camelô vendendo pipas de plástico.
Depois me disseram que nossas caveiras sorridentes
não eram de abóboras, e sim de morangas.
Os abacates e as jabuticabas
fui reencontrá-los no supermercado.

Galos de granja não brigam.
Carrinhos de rolimãs? Skates importados
com pistas especialmente planejadas...

Ficou essa mania de construir poemas
com bambus e pita.
Quando chove — e sempre chove —
o poema acaba molhado.

Quando venta — e sempre venta —
o poema fica assim:
levantando palavras e derrubando versos.

O meu poeta gosta de cavar cavernas.

O Encanto dos Sentidos

© Nathan de Castro & Lílian Maial

Como explicar o encanto dos sentidos,
se em meu caminho a dor era o alento?
E hoje a paixão me ensina esses sonidos:
traduz, em cheiro e tato, o sentimento.


Como explicar a Lua e o Firmamento
que se entrelaçam tão desinibidos?
Palavras da saudade solta ao vento...
Como explicar o encanto dos sentidos?

Como esquecer do gosto, que eu invento,
se, quando invento, escuto os teus gemidos,
a me adoçar o amargo sofrimento?

Quem sabe o céu libere os seus cupidos
e nos conceda a luz do alinhamento...
Nós, astros, dos amores, refletidos!


O Sangue Azul do Mar

© Cissa de Oliveira


Compreendo que sejam as janelas
as verdadeiras enamoradas do mar
e que por causa delas se quebrem as águas
irrealizando a mansidão das tardes
tão singelo e quase desatento descobrimento
equivale a um tanto de açucenas
que me desnudasse um poema
para colorir só com perfumes
umas já antigas e desgastadas palavras
uma gaivota atravessa a paisagem
ao tempo de uma onda com suas rosas frágeis
evola-se o dia e nas areias brancas das praias
misturam-se os nomes escritos com letras graúdas
dentro de corações tão maiúsculos
quanto o horizonte
é quando mais se derramam as janelas
incendiando o sangue
azul do mar
Cissa de Oliveira
27/12/2005


Soneto com Tabuada e Estrambote

© Nathan de Castro


Quando o silêncio chama o meu poeta
para um novo poema, vou sangrando
e o líquido que jorra da caneta
mancha a saudade e as luas do comando.

Se penso num soneto, uma trombeta
toca uma prosa, e já considerando
que a conta dos quatorze está completa,
arrisco um verso livre, torto e brando.

O resultado é pálido e sem graça.
- Não sei falar de sonhos sem rimar
e sem contar as sílabas... Cachaça! -

O vício me acompanha e faz pirraça.
Contei tantas estrelas ao luar,
que agora pra escrever e dizer nada

junto ao poema os sons da tabuada.

Galope

© Nathan de Castro


Pra galopar no azul do meu cavalo alado
encilho o verbo, busco as trilhas dos sonetos
e troco as ferraduras do tempo passado,
pois do passado eu quero apenas esqueletos.

Arreio a sela, aperto a cilha nos quartetos,
confiro a tralha, monto o baio nas esporas
e solto o tempo e as rédeas dos meus desafetos,
pois desafeto ao vento eu corto em poucas horas.

Cavalgo a liberdade e estradas sem porteiras,
levando no embornal os versos de outras beiras
e uma cabaça co’água fresca da nascente.

Descanso os pés no estribo e vôo nas palavras
e, quando o som da rima espanta a passarada,
tiro o cabresto e o verso alegre segue em frente.

Soneto Para Flauta e Caneta

© Nathan de Castro


O som da flauta doce baila na colina,
e ao pé do jatobá copado de saudades,
preparo a solidão da noite de ravina,
relembrando enxurradas e antigas paisagens.

Como era belo o verde nos pés da campina!
E os canários do reino de felicidades
soltando os seus trinados na tarde menina,
sem saber o apetite do mar das voragens!

O canto dos riachos nos trilhos das matas
embalava os sonhos de fogo e queimadas,
à margem dos canteiros de belas serenatas.

Silêncio e imensidão no mirante poeta
e o sopro do passado contando as passadas.
Na mágica da música, os sons da caneta.


Olhos Negros

© Nathan de Castro


Andava sobre o solo de uma estrela
sem ver que a flor brotava a cada dia
e que a canção do amor me levaria
às tendas das paixões de uma aquarela.

Queimei os pés, rasguei a passarela
dos sonhos, mas guardei a poesia...
A linha que compus na fantasia,
compus com as certezas de vivê-la.

Por tanto amor, por tanta areia e tanto
desejo acumulado, às vezes canto
um canto de oceanos esquecidos...

O véu e os olhos negros, entretanto,
eu leio e sei que as ondas deste encanto,
hão de pousar nuns versos não cumpridos.

Caixa de Ferramentas

© Silvana Guimarães


dúzias de pregos soltos 4 alfinetes de fralda [ o desmazelo1 rolo de fita isolante que nem teve serventia6 retratos 3x4 (fora o do relicário de prata que [ não é meu)desarrumadas lembranças 1 carta de amor3 de baralho: 1 rei de pau 1 dama de quatro1 ás de ouro (puro): erro de cartomante1 chave de fenda 1 calcinha de renda1 clave de lua pena de passarinho asa de borboleta raiozinho de solcaixinhas de música conchinhasa coleção de pedras 1 colar de pérolasaquele salto alto que nunca foi lá2 espelhos 7 chaves (e nenhuma abre a algema)1 faca covarde 1 pulso (esquerdo) enferrujadoa tesoura sem ponta tormenta de velhos papéismissal de madrepérola são jorge no santinhoassassinando o dragão com 1 canivete suíço9 segredos sufocados nos laços da fita amarela1 soluço a última ilusãotodos os beijos que eu dei todas as bugigangas [ que junteitodos os parafusos que perdi (quase esquecido de lado escondido entre rimas [ rasgadase a flor no mal-me-quer 1 martelo torto e [ sem cabode tanto bater na saudade)

Ciranda

© Nathan de Castro


Do pó da terra ao pó, a máquina trabalha
na busca insaciável do conhecimento.
Vai fabricando esgotos, lixos, sofrimentos
e as guerras que convidam a novas muralhas.

Quão fascinante o corpo e a malha desse invento!
A precisão do olhar-criança nas batalhas
pela sobrevivência inútil, vil, canalha...
E sem saber, após a morte, o pensamento!

Embora a podridão e os vermes repelentes,
embora o esterco, o visgo, o sebo, a carne e as tripas,
toda a alegria e fé... Ternura de tulipas!

No lixo do universo, a beleza: presente
do Mago Criador, vale o mote, a poesia,
as artes, a palavra e o céu de cada dia.


Regresso

© José-Augusto de Carvalho


Meu berço foi o cais do desafio.
Bebi, no sal das ondas, o amargor;
no mar, a tentação do desvario
e o sonho de ir além do Bojador...

Fui eu e, além de mim, fui outros eus,
de orgulhos e linhagens despojado.
Em tantos povos livre e misturado,
de todos soube ser mais um dos seus.

Cheguei além do cravo e da pimenta,
além das ambições e das contendas,
além do lodo em que o poder assenta...

Da longa caminhada exausto chego.

De mares e de terras trago as lendas,
nas naus perdidas do desassossego.


19 de Maio de 2006.
Viana do Alentejo * Évora * Portugal

Soneto Desafinado

© Nathan de Castro


O meu poema é música sem partituras,
rabeca troncha e sonsa de uma nota só.
Paixão que bebe a doce clave das loucuras
nas batutas do amor, poeira, pedra e pó.


O meu poema é mote de enganar agruras,
jazz que me envolve em tela azul de rococó.
Pincel, paleta e marcas de velhas cesuras
no corpo de sonetos que amarro e dou nó.


Silêncio de relâmpago e luas desertas,
luares e palavras de aluar pateta,
para cumprir a sina: poeta ou poeta!


Sigo pelos caminhos de portas abertas,
rasgando a solidão da palavra concreta,
desafinando a orquestra e a ponta da caneta.

Meu Passarim

© Rosa Pena


Hoje amanheci com sono e vi o dia sem planos e sem colorido. Não tinha o sol atrevido, nem você pra dizer “eu te amo” no meu ouvido. Atravessei apressada e quase esbarrei no jardineiro que catava contente as folhas que se despediam do verão. As águas de março chegaram neste novo mês. Percebi o sorriso encantado do homem para as flores teimosas que desobedecem ao outono e permanecem viçosas pro beijo dos beijoqueiros. Bem longe um pássaro jobiniava wave com o consentimento do Tom ou era ele próprio passarinando? Boba que sou tantas vezes e me parto inutilmente ao meio, sem perceber que você veio, está aqui, aliás, nunca saiu. Presente no sorriso do catador, no beijo do colibri, nas flores desobedientes, no canto encantado do pássaro Tom que fecha março sem pedras no caminho. Saudei finalmente abril.

1 de abril de 2006

Receita de Jardinagem

© Nathan de Castro


O grande amor não é uma rosa.
O grande amor é uma roseira. Ele também tem espinhos,
mas não ferem quando tratados com cuidado.
Uma roseira precisa de carinhos.
Há que se regá-la diariamente e cantar músicas de amor.
Convém saber os agrados secretos do grande amor
e declamar poemas ao som de uma orquestra sinfônica.
De preferência, músicas de Chopin, Bach, Beethoven,
Vivaldi, Ravel ou Tchaikovsky, executadas pela
filarmônica de Viena.
As plantas gostam de música e suas folhas gostam dos
afagos das notas musicais.
É importante saber da raiz e ao menor sinal de pragas,
formigas, lagartas, ervas-daninhas e, ah! Os terríveis pulgões... –
Cuidar do canteiro e recolher com as próprias mãos
tudo quanto possa atrapalhar a floração.
Nunca use agrotóxico! Tratamento de choque pode matar
o grande amor. O adubo do sábio toque é o mais indicado.
Borboletas, abelhas, joaninhas e beija-flores são bem vindos.
As grandes amizades fortalecem a seiva.
Nunca se esqueça de podar a roseira uma vez por ano.
É importantíssimo! Quando os galhos crescem em excesso
é sinal de que o desmazelo está a tomar conta dos espaços.
Não é nada fácil a peleja de um jardineiro e, mesmo com
todos esses cuidados, existem, ainda, os inimigos naturais:
tempestades, chuvas de granizo, secas e tantos outros...
Finalmente, não colha as rosas ainda em botão.
Deixe que elas floresçam na roseira.
Elas carecem de enfeitar os olhos e os sonhos
dos jovens namorados em busca do grande amor.
As rosas têm manias de poesia e, assim como os poetas,
buscam o poema de pétalas perfeitas para eternizar
o orvalho e o perfume nos olhos de um novo e grande amor.

Nas Asas do Soneto

© Nathan de Castro


Nas asas do soneto encontro o seu abraço
e os versos de saudade. O gosto vem na boca,
que beija a perfumada tônica no espaço
e, alexandrinamente, eu tiro a sua roupa.

Mãos ávidas de rimas nos seus lindos seios,
vasculham os caminhos do colo sedento.
O ritmo acelera as carícias e anseios
e atropelo a palavra que explica o momento.

Para finalizar, relembro os seus cabelos
bailando na metáfora de estilo antigo,
me ensinando o perfume dos olhos bandidos,

que de tanto amar, nunca soube entendê-los...
E perdi os segredos guardados no abrigo
dos seus sonhos, à chave de ouro, escondidos.

Tempo de Gabiroba

© Nathan de Castro


Meus campos de pitangas, pássaros e flores
perderam-se nas grades frias dos arados.
Insetos e lagartos, sem os seus amores,
morreram nos entulhos do solo adubado.

Das hastes e pendões do milho verde assado,
nas tardes de pamonha e mil e um sabores,
ficaram cafezais, pastagens para o gado
e enormes plantações de soja e desamores.

Tempo de gabiroba e de fechar porteiras,
passando por debaixo das cercas de arame,
depois catar picão na roupa e na saudade.

Asas de borboleta e as sombras das paineiras
ficaram na colméia de sonhos, no enxame
das letras e varandas dos meus fins de tarde.


Por Tanto Sol /// Canção da Flor

© Nathan de Castro

Não sei das doces cores da paixão.
Ensina-me o sorriso dessa urgência,
que bate no meu peito e sem clemência
toca uma flauta, um surdo e um violão.

Ensina-me o caminho dessa ausência,
que, há tantos anos luz, me estende a mão,
por não saber do azul, tanta querência...
Por não saber dos frutos da estação.

Dá-me a florada, e o pólen da loucura
que enfeita o teu sorriso e o teu olhar...
Por tanta areia, enfrento essa aventura,

por tanto sol, me entrego ao navegar
e para que a canção cumpra a ventura,
em versos - beija-flor - vou te buscar.



© Lílian Maial

As cores da paixão eu sei de cor,
Das vezes que teus olhos me piscaram,
Num vôo, num balé de predador,
Que ingênuos, tão cativos, me domaram.

Contigo hoje entendi o que é o amor,
Teus cílios mil carinhos me ensinaram,
No bico, tens o céu e o esplendor:
Meu pólen, em que os teus lábios se fartaram...

O meu jardim é teu, doce candura,
Teu pão é a flor e a paz dessa loucura,
Na terra, sob o sol, dentro do mar...

Pois venha me buscar, que eu não agüento
sofrer esta saudade, e o linimento
é o verso beija-flor que eu vou cantar!

A Sustentável Leveza de Ser

© Nathan de Castro

Se a rocha me oferece um novo verso,
o caminho que sigo leva ao chão
das palavras perdidas no universo
dos amores que o tempo disse: não!

O destino, traçado desde o berço,
não aceita o acaso, e o coração,
quando pedra, só serve de adereço...
Bate o passo e o compasso da razão.

Na calada da letra, o pensamento
segue a rota das rimas de algodão:
branco, leve, perdido e solto ao vento,

sem um ponto final para a canção...
Nos acordes da música, o elemento
tem o peso e a massa da paixão.

Estrela

© Nathan de Castro

Silenciosamente me acompanha um louco,
nas luas pelas ruas de beijar saudades.
O papel por sobre a mesa ganha, pouco a pouco,
a noite de um deserto, nuvens, tempestades.

Com o sinal aberto sigo outro soneto,
nas luas pelas ruas de escrever bobagens.
Apêndices puídos, versos — branco e preto —,
luares dissolutos das minhas miragens.

Caminho a solidão das frases repetidas,
nas luas pelas ruas de cantar a Estrela,
com rimas de um riacho de águas poluídas.

E busco o som e o tom dos beijos de novela,
nas luas pelas ruas de sangrar feridas,
para que o Sol entenda o quanto eu gosto dela.

Sentença de um Poeta

© Nathan de Castro

Quando a noite seduz minh'alma triste e a lua
me põe na boca o gosto doce de romã madura,
formosa estrela canta a luz na madrugada escura,
cravando um raio de esperança e paz na minha rua.

De manhã, o sol bate solidão feroz no peito
e uma voz rouca vem com o vento despertar os medos,
me intimida, sufoca, mas lembra que os meus dedos
somam mais que os obstáculos aos quais estou afeito.

E, como que para livrar de toda culpa e pesadelos,
navego a esmo a vida com paixões, canções e aos poucos
transformo em frases os meus últimos fios de cabelo.

Entrego-me corpo e alma aos versos de um poema novo
que espalham pensamentos desvairados, quase loucos...
Sou meu fiel juiz, dito a sentença e logo me absolvo.