Tuesday, October 31, 2006

Sampa à Mineira


© Nathan de Castro


Estação Tietê...
Um poeta mineiro entra calmamente no metrô

paulistano.
Tem muita gente... Gente de todos os

olhares, de todos os passos, de todos os
sonhos. Trabalhadores, retirantes,
estudantes, vagabundos. Poetas da

metrópole que dorme de terno e gravata,
de chapéu de palha, de mochila nas costas
e de farrapos de aguardente e cola.
Todos em busca da Sé.
Da Sé vai-se a qualquer parte da vida, a

qualquer parte da morte, a qualquer parte
do destino de viadutos e engarrafamentos.
Tem um grito de solidão no céu de chaminés,

um soluço de fumaça nos olhos vermelhos e
um brilho de garoa nos cabelos da menina.
Menina paulistana. Aquela, mesma, da

“deselegância discreta”, que Caetano cantou
no cruzamento da avenida Ipiranga e São João.
Estação da Sé...
Tem pouco espaço. Pouco espaço para os passos

apressados.
O destino pede passagem, e poeta mineiro que

se preze, não perde o trem. Adapta-se,
facilmente, ao ritmo do poema.
Poema livre e recuperado da Estação da Luz.
Poema de concreto pichado por todos os cantos.
Poema maquiado nos porões da ditadura.
Poema modernista da Avenida Paulista.
Poema verde do Ibirapuera.
Poema das canções de tantas Marias.
São tantos, que a vida acontece sem palavras

e acenos.
Mas um encontro de poetas espalha versos de

palavras e acenos nos jardins paulistanos.
Talvez, por ironia, no restaurante:

À Mineira.

Tuesday, October 24, 2006

Pedra de Paixão


© Nathan de Castro


Lá fora tem um céu de primavera mesclado
de verão.
O inverno passou em branco na pequena rua

Irmã Dulce e os sinais das flores, que tanto
me encantaram na infância, parecem-me distantes.
Hoje, os olhos do poema pintaram na minha tela.

Pintaram com um colorido de orquídeas cultivadas
distantes das luzes e emoções dos riachos e das
cachoeiras dos meus dias.
Tem um vazio de mil sonhos pingando mil versos

de beijos lançados ao vento nas dezenas de
estações passadas...
Os pombos declamam poemas no teto do edifício e

lançam dejetos de estrelas opacas no silêncio
da sacada.
Poema sujo em plena madrugada!
O virtual toma conta do verso livre e já não me

lembro dos abraços e beijos no alpendre de verdes
samambaias.
Não tem música!... Não tem as pedras das serenatas

e o gozo do luar lambendo as paredes caiadas...
Tudo é concreto na explosão do verso que me habita!
Um disco voador pousou um canto de outro mundo

dentro do meu peito e, a lágrima da noite secou
ao som dos milhares de anos-luz que não vivemos.
Tudo é distância nessa estação espacial que guarda
a esperança das páginas de primaveras tantas.
Na viagem, perdi todas as estações primaveris,

mas tenho a orquídea da palavra amiga, a rosa
vermelha, e o poema que canta a espera à luz de
cada dia.
Isso só pode ser coisa de paixão e, para a paixão

não existe tempo ou espaço...
Existe a poesia da saudade.
Existe a poesia do beijo no olhar.
Existe a poesia do mistério da vida e a sensação

da rima cumprida para a eternidade.
Não sabes o quanto amei os teus seios, a umidade

rubra dos lábios nas tardes de outonos, e os sumos
da tua poesia!
Eu morro de amor a cada dose de estrelas!
Saudade é o ponto que busco no Universo!
Eu vou, ou vôo!
Em todas as cores da euforia.
O meu poeta é cascata, pedras e cachoeiras.

Habitat perfeito para as orquídeas e para as coisa
da paixão.
O amor é coisa boba de eternidade!...
Pedra silenciosa que mora no meu coração vagabundo.
Pedra de paixão.
Coisa tola, essa de escrever e reverenciar saudades.

Wednesday, October 18, 2006

Rádio Pirata


© Nathan de Castro


Ninguém sabe a paixão que anda comigo,
quando a saudade estende a sua mão...
Vazio é pouco para o verso amigo,
nesses tolos momentos de emoção.

Finjo que é nada, mas no peito eu ligo:
rádio pirata do meu coração...
Por tanto amor, talvez encontre abrigo
na música que exalta a solidão.

Mas só encontro samba, rock e frevos
que falam de esperança aos meus projetos
tão pobres, tão silêncios, tão sem trevos...

Não tenho a sorte, nem sei de amuletos!
Somente sonhos e esse mar de enlevos
levando em ondas turvas os meus sonetos!

Friday, October 13, 2006

Sanatório


© Nathan de Castro


Se o destino é um caminho obrigatório,
sigo em frente na dor da arribação,
mas nos versos rejeito os repertórios
que não sabem a flor de uma paixão.

Mesmo quando a emoção veste o cenário
com as cores escuras da estação,
corro atrás dos meus sonhos, - sou de aquário -
e ao acaso inda beijo a tua mão.

Ao meu louco ofereço um sanatório
de sonetos, com rimas de algodão,
insistindo em dizer que é temporário

este mar de agonia... A escuridão
não me impede de gritar: - Sou o otário
mais feliz quando o assunto é o coração.

Thursday, October 12, 2006

Soneto Criança


© Nathan de Castro


Eu sou criança, sei contar estrelas
e elas me contam versos de voar...
As noites de quintais são sempre belas
quando as nuvens retornam para o mar.

Preciso apenas de umas passarelas
de cores vivas para desfilar
o amor, a paz, a vida e as aquarelas
que a lua me ensinou a desenhar.

Não quero a fome, a sede, as tristes bombas
e nem os nevoeiros, feitos sombras,
nos olhos dos meus pais... Felicidade

é um passarinho livre no arvoredo,
é caminhar ao sol sem sentir medo
e adormecer no chão da liberdade.

Wednesday, October 04, 2006

Desapropriação


© Nathan de Castro


Não me fizeste mal, fizeste apenas
um buraco no casco da poesia
e, náufraga nos versos, pinto as cenas
com meu pincel pingando fantasia.

Não me fizeste o sol na melodia,
somente uma lembrança das melenas
jogadas sobre as margens mais serenas
do meu riacho doce, que sorria.

Por que não me deixaste o mal, se tudo
foi sonhos que plantamos pela estrada,
quando o meu corpo ardia de desejos?

Por que não me deixaste o sol, se tudo
foi luzes que roubamos da alvorada...
Por que tiveste medo dos meus beijos?

Monday, October 02, 2006

Parabéns ( De Verdade ) ao Brasil! Parabéns ao Povo Brasileiro!


© Nathan de Castro


Parabéns à burguesia acomodada,que tem
no guarda-roupas a última moda para as
quatro estações, troca de carro todo
final de ano e precisa da miséria à sua
volta, para bater no peito e dizer: “
__ Eu faço meu trabalho social.
Eu ajudo aos pobres...” “Eu...”
Parabéns à burguesia de curta memória,
que não sabe ler a falsidade de um sorriso,
que não sabe ouvir o tom dissimulado das
vozes dos que têm sede de poder,
e que não presta atenção no nervosismo das
mãos, capazes de qualquer coisa para galgar
mais um degrau de escadas...Parabéns à
burguesia incompetente, que não sabe gerir
os seus negócios sem os braços amigos do Estado.
Parabéns à burguesia feliz com o seu contra-cheque
recheado de verbas e vantagens, mas que vota
contra um governo que elevou o salário mínimo
de 60 para 140 dólares em menos de quatro anos.
( Tão pouco, mas se continua nesse ritmo... )
Parabéns à burguesia internauta que passa horas
e horas à frente de um microcomputador, enviando
mensagens de todos os tipos, sequer se importando
com a veracidade das informações, única e
exclusivamente para garantir o seu individualismo,
e a favor do radicalismo incompetente que já foi
e nada fez.
Parabéns à burguesia preconceituosa, que não
aceita um trabalhador como presidente,
mas admite votar em candidatos, comprovadamente,
corruptos.

Finalmente, parabéns! Parabéns de verdade!

Parabéns ao nosso Brasil que, ontem,
mostrou ao mundo o que vem a ser uma eleição
democrática, rápida e sem falcatruas; e
parabéns, de verdade, ao povo brasileiro que,
em sua maioria,soube valorizar o seu voto.