Tuesday, June 26, 2007

Salamandra


Se o vento permitir e esta salamandra
sair do meu caminho,
daqui a três horas terei um encontro marcado
com mais uma noite de inverno.
O fogo?... O fogo apaga-se com água,
e água é o que não falta nas entrelinhas
dos meus sonetos ridículos.
Talvez uma pitada de sal transforme o verso em lágrima...
Cansado estou dessas linhas de saudades,
dessas prisões de letras transbordadas de luas
e estrelas seminuas que me lembram primaveras.
Uma mariposa pousou sobre o livro do Antoniel.
“De cada poro um poema”.
Mais um motivo para não faltar a esse encontro.
Ainda não terminei de ler.
O relógio continua com seus badalos ritmados.
Não posso me esquecer do encontro marcado
daqui a duas horas e quarenta e cinco minutos...
Desta vez, vou bem acompanhado.
A mariposa se foi... O vento parece estar a meu favor...
Somente a salamandra não sai do caminho.

Tem uma salamandra atrapalhando o verso,
e a rima do soneto chama a cantoria,
para brindar à noite e lapidar o dia
com as cores da tarde e frutos do universo.

Os passarinhos buscam as canções do berço,
as árvores se encolhem, trêmulas de frio,
e o meu poeta louco aceita o desafio...
Ele não sabe a letra sem rezar o terço.

A mariposa, o sal, o encontro, a água e o fogo
carecem de poesia e luz para que o jogo
de palavras não falte nas canções de amor.

Se há tempo de esperança, então que seja logo!
A música do vento exige nova flor,
e o relógio não sabe o verso e o seu sabor.

Monday, June 11, 2007

A Dona


© Nathan de Castro


A dona da poesia que me habita
tem os olhos de estrelas de primeira
grandeza, o brilho e o encanto da fogueira,
quando a canção, do amor maior, gravita.

A dona da poesia é a feiticeira,
mulher de mil cenários, senhorita
dos sonhos de luares e a pepita
maior que pode o olhar da cachoeira.

A dona da poesia tem na boca
as marcas da paixão que ora declamo
e o beijo que me ensina o amor cigano.

A dona da poesia me provoca,
navega pelos rios que derramo,
mas não esquece as rimas do oceano.

Saturday, June 09, 2007

Heresia


© Oldney Lopes


Heresia não é falar

Heresia é não deixar falar

É emudecer, tirar do ar

É querer calar

Até mesmo o canto das aves

Heresia é uma TV

Trancada a Chávez

Wednesday, June 06, 2007

Miragem


© Nathan de Castro



Lembro-me dos tempos de sonhar.
Tinha um cheiro de eucaliptos no ar.
Abacateiros, jabuticabeiras e mangueiras
se vestiam de verde.
Tanto verde!... O mato, verde.
O riacho, verde. O mar, verde.
Todos os tons do verde.
Os sonhos verdes e a mágica do azul no céu
de cada outono.
Palavras não pingavam saudades.
Pingavam polpa de manga madura e deixavam
um sol amarelo no rosto das crianças
e nas camisetas do colégio estadual.
Sol de esperança.
Hoje, somente goiabas maduras, bichadas!
Bichos de silêncios na minha poesia
e um rio assoreado, singrando nos meus devaneios.
O amanhã?... O sorriso do peixe
e o grito da rosa tardia.
Apenas um poema sem tempo e sem métrica.
Bem sei que amanhã tem o sol dos desertos.
Talvez, algum oásis pelo meu caminho.
Nada é mais belo do que o sol de um novo dia
iluminando as palmeiras e sorvendo da água
cristalina.
Deliciosa é essa miragem com sabor de frutos maduros.