Friday, June 30, 2006

Soneto de Sexta-Feira

© Nathan de Castro


Um verso de silêncio me acompanha
nos palcos estrelados das saudades
e a voz da tempestade que se assanha,
é a voz que a noite agita na cidade.

Voz de néon na esquina que me arranha
o peito de cimento e falsidades,
onde um poeta pisa e sempre estranha,
pois sabe o chão da sua identidade.

Os paralelepípedos das ruas
conhecem as passadas do poeta
descendo as entrelinhas da ladeira...

Num passo para frente colhe duas
palavras esquecidas na sarjeta,
e rima o amor e a dor da sexta-feira.

Thursday, June 29, 2006

Retrato

© Nathan de Castro


Olho no espelho e vejo a face do poeta
— o outro, o que me olha de cara lavada —,
e, de repente, ali, sou eu ou quase nada,
apenas um silêncio, a noite e uma careta.

"Ainda-nem-rosto", a pele fria e esfacelada
pelas canções do tempo, busco na caneta
um canto que preencha a página incompleta
da con-fusão das vidas, na tela encenada.

Mas logo o meu poeta volta e rouba a cena,
diz que a palavra é amiga e nunca me condena
por ser fiel aos lagos límpidos e espelhos.

Fecho a janela e acendo as luzes dos cinemas.
Eis-me narciso, e neste palco os meus poemas
são sempre jovens. Tolos: nunca ficam velhos!

Wednesday, June 28, 2006

Céu Vaidoso

© Bruna Maial


É preciso cor,
É preciso se expor,
É preciso rosa, cinza, azul...

É preciso escolher o humor,
É preciso chorar,
É preciso srrir,
É preciso corar...

É preciso estrelas brilhantes,
Para ver, para encantar,

É preciso para embelezar os cabelos da noite.

Primaveras Opostas

© Bruna Maial


A minha primavera tem paz,
A outra tem guerra.
A minha tem vida,
A outra tem morte.

Eu recolho flores,
Minas recolhem pernas.
Eu corro por campos floridos,
Pessoas fogem pelos campos minados.

Vingança
Para os menores...
Se plantarem sementes ruins,
Nascerão frutos podres.

Tuesday, June 27, 2006

Versos Tortos XII

© Nathan de Castro


Escuto o silêncio da noite.
Tem uma estrela que se veste de saudades.
Estrela do oriente. Estrela de muitas pontas.
Pontas que me tocam as entranhas com os dedos
da mágica poesia.
Tem uma tenda de amor iluminada por velas
dentro do meu olhar poeta.
Calo-me ao absurdo desse momento de morte súbita.
Não me vejo fera... Não a vejo bela. Vejo apenas
constelações desconhecidas e um imenso planeta
de areias e desertos.
Não é sonho. É coisa de vida e espasmos do tempo.
Tempo que se revela presente nas estampas dos lençóis
perfumados pelas flores colhidas na estação.
Um verso de esperança invade a aldeia dos meus sonhos.
Tem um canto cigano brincando de escrever um véu
de sete pétalas de incenso benzido, pela deusa do amor,
no meu poema torto e sem rima.
Eu vôo...
Vôo ao encontro dessa galáxia de olhos indecifráveis.
Não conheço os trilhos desse caminho revestido de poemas,
mas gosto desse encanto de momentos lúgubres...
A dor da ausência do amor é mais forte do que as palavras,
mas sei um verso antigo e embebido pelas lágrimas dos ventos
e choro nas asas dos salmos desconhecidas dos meus dias.
Um choro de alívio, mesclado com poesia.
Vou paixão e vôo no instinto das madrugadas...
Com ou sem elas... Pássaro de mim.
Pássaro louco e apaixonado pelas letras nos fazeres da magia.
Do amanhã não sei as cores, mas sei a música de escrever:
- morri... De amor, morri...
Sei os olhos dela no momento final da poesia que me habita.
Feitiço para aprender o vôo do amanhã e beijar os lábios da
nuvem que sorri sobre o oásis inventado para o próximo encontro.

Monday, June 26, 2006

Versos Tortos XI

© Nathan de Castro


Esta minha mania de sonhar acordado
sempre me leva por caminhos conhecidos.
Os mesmos caminhos, sempre.
As mesmas histórias, sempre.
Os mesmos personagens, sempre.
Cansado estou destas prisões de sonhos.
Não sou malabarista
e não sei lidar com essa coisa
de viajar por trilhos desconhecidos.
Às vezes arrisco um grito
no silêncio da noite.
Nunca ouvi o eco e, portanto,
não posso descrevê-lo.
Sei apenas o eco dos meus pensamentos:
Saudade... Saudade... Saudade...
Somente ofereço esse enredo pobre
ao meu poeta.

Sunday, June 25, 2006

Versos Tortos X

© Nathan de Castro


Ah! Essa loucura de fotografar um verso a cada dia...
Coisa estúpida de quem pensa entender das poses da

lua.
Não existe fotografia que me acenda a madrugada
e nada faz folia no peito da poesia que me habita.
A lua ria.
Sei falar saudade.
Sou ponto de espera angustiante.
Meu traje é feito de pano vencido. Algodão

amarelado, sem as agulhas do tricô e os
pontos-de-cruz das hábeis mãos da jovem senhora,
minha mãe, que tem a fé nas linhas da poesia
da eternidade.
Eu, apenas canto de saudade com as sobras!
Resto de novelo é emoção de escrever besteiras.
Eu escrevo.
E fito os olhos da madrugada como se fossem apenas
uns momentos de palavras.
Ou, nada.
Escrever é fantasia. Ofício de buscar o amor

nas paredes dos mais antigos sinais deixados
pelo homem(?).
Tem uma pirâmide de versos nos meus olhos
e uma tumba vazia à espera do poema.
Sequer uma gota de orvalho nas paredes frias

do peito e a solidão nunca fecha a porta
para a melodia do sonho.
Sequer uma foto amarelada na parede da sala...
O amarelo me cansa a vista. Gosto do negro

dos olhos da paixão.
Seriam negros os olhos da paixão?
A emoção do verso livre me empolga.
Rabisco mais um verso decassílabo.
Conte as sílabas...
Eu não conto. Apenas rabisco as besteiras

do meu coração.
Ou não?...
Os versos são apenas sonhos quando o sonho

faz serão.
Ou sim.

Saturday, June 24, 2006

Versos Tortos IX

© Nathan de Castro


“Porque hoje é sábado”
uma borboleta amarela
pousou no meu quintal.
“Porque hoje é sábado”
tem muito colorido lá fora,
muita luz, muito verde
e muito sol...
Não gosto desses dias de sedução.
O meu poeta sempre aparece
com a mania de cantar
esperanças, e sabe perfeitamente
que aprecio as combinações.
O cinza no peito não combina
com o amarelo e muito menos
com todo esse colorido
da estação.

Friday, June 23, 2006

Versos Tortos VIII

© Nathan de Castro


Hoje eu acordei de nuvem carregada.
Frente fria, com cheiro de inverno,
chamando ventos fortes, raios, trovões,
granizo e chuva.
Muita chuva.
Chuva de palavras despejadas sobre
a tela em branco.
Chuva de outono que faz crescer o mato
em torno dos meus sonhos.
Aprendi a gostar do mato.
Ele tem a sua beleza, tem o mato,
e tem o canto solitário da natureza:
ervas-daninhas, insetos, lagartos
e os vôos rasantes de pequenos pássaros.
Carece de estudar melhor essa fauna
e essa flora.
Penso que o remédio para a cura
do mal da paixão está escondido no mato.
Sorrisos não faltam nos canteiros de outono.
E não faltam boninas...
E não faltam estrelas quando chega a noite.

Thursday, June 22, 2006

Versos Tortos VII

© Nathan de Castro


Os sonetos já não me procuram como dantes.
Às vezes perco-me nos labirintos
das tônicas, métricas e rimas.
Penso que vivi muito pouco
e já não encontro o que dizer
em quatorze linhas amarradas.
Para escrever é necessário que a vida
seja agitada e que se acumule muitas histórias
de luas e oceanos, além de serras, claro.
Precipícios, rios, cavernas e canteiros são importantes,
mas as estradas...
Essas, sim. De importância fundamental.
Quanto mais estradas percorridas,
tanto mais histórias a contar.
Depois vem a parte mais complicada:
lapidar as palavras.
Ofício dolorido, esse, de talhar a alma.

Wednesday, June 21, 2006

Versos Tortos VI

© Nathan de Castro


Ouço muita gente dizer:
_ “Estou em busca da minha paz interior”.
Poucos falam na busca pela paz entre os povos.
A tal “paz interior” que se dane!
Aqui dentro do peito eu quero conflitos,
guerrilhas e ataques
de todos os tipos de paixões.
Quanto mais bombardeios,
tanto mais combustível para os versos.
Se faltar munição é só me avisarem...
Forneço gratuitamente.
Tudo é urgente para quem espera,
a qualquer momento, um verso-bala perdido.

Tuesday, June 20, 2006

Versos Tortos V

© Nathan de Castro


Confesso que eu vivi.
Vivi de sonhos, luas e palavras.
Não vi o encanto das estradas
e nem sequer cruzei oceanos.
Somente nos livros encontrei a neve
e os icebergs da poesia.
Somente nos livros encontrei os vulcões
e me deparei com terremotos, furacões
e caminhos de pedras coloridas.
Vence quem tem os espaços nas mãos.
Vence quem não carrega o medo
do escuro e enfrenta as tempestades
de meteoritos como se fossem,
tão somente, tempestades de meteoritos.
Sobre as mesas ficaram apenas
versos espalhados,
paixões amarrotadas,
silêncios e sonhos despetalados.
Ah! Vida, vida... Enquanto a voz do tempo passa,
eu passo medicando as marcas das esgrimas
e suturando sonhos, paixões e saudades.

Monday, June 19, 2006

Versos Tortos IV

© Nathan de Castro


Tudo parece mistério nas mãos de quem se acostumou
aos versos politicamente corretos.
Ah! Essa coisa estúpida de morrer em paz com os decassílabos!
De paixão é bom morrer de todas as formas.
Não vejo simetria no rosto da senhora Morte.
Vejo apenas palavras não cumpridas.
Momentos não carpidos.
Pensamentos espalhados sobre a relva verde.
Liberdade nada tem a ver com formas.
Liberdade é o incenso de outono iludindo o olfato do inverno
que insiste em se instalar nas letras das canções,
as quais insisto em despejar sobre o mato
em torno dos meus sonhos.

Mistério de pássaros sombrios.
_A morte é tão real como real o céu da solidão
que invade os meus poemas,
metrificados ou não.
Tudo dói de estrela quando a palavra salta
de dentro para fora.

Sunday, June 18, 2006

Versos Tortos III

© Nathan de Castro


O meu auto-exílio nos campos da poesia me leva
com incrível força ao encontro
das formas antigas.
Misteriosas mensagens desconhecidas,
palavras repetidas por séculos e séculos.
O mundo, lá fora, nem percebe
os abalos sísmicos dentro do peito poeta.

Saturday, June 17, 2006

Versos Tortos II

© Nathan de Castro


Os anos me ensinaram
a ver possibilidades
em cada verso
e em cada esquina.
Eles somente não me ensinaram
a arte do encontro.
Fica esse vazio de caverna
nunca explorada
dentro do peito
enfartado de poesia.

Friday, June 16, 2006

Versos Tortos I

© Nathan de Castro


Foi somente um pesadelo.
O mato continua verde e a terra
com sabor de terra, dia após dia,
brotando poesia e servindo de lua
para as luas distantes.
Foi tudo rápido como o vento:
tratores, arados, motosserras...
Novela com apenas um capítulo,
sem início, meio e fim.
E o tempo, jogado no fundo da gaveta,
sonhando ao lado dos rascunhos de sonetos.
Somente esses meus rabiscos
sabem a verdade e o medo
estampados na face da noite.
E, enquanto durmo, servem-me de escudo.
Eles se afeiçoaram ao meu poeta,
ou, quem sabe, a esta minha tristeza
de árvore tombada.

Wednesday, June 14, 2006

Passos de Bolero

© Nathan de Castro


Por essa Lua gorda e feiticeira,
que sobe pela escada do infinito
e queima a noite fria da altaneira
poesia que me esfola o verso aflito,

nunca te esqueças desse amor sem eira,
que beira a tarde à espera do delito
maior que pode a rima que permito,
para queimar-te em juras na fogueira!...

Fogueira da paixão que se me assola
quando o sono se agita em labaredas,
lançando um véu de cinzas nos lençóis...

O teu perfume, a música, a vitrola,
os passos do bolero... As nossas sedas...
Nós brasas nos luares de mil sóis!

Tuesday, June 13, 2006

Monday, June 12, 2006

Soneto para derreter a taça

© Nathan de Castro


A minha deusa tem o olhar de estrela,
o beijo da serpente e a fina flor
que pinta a sedução verde-amarela,
quando o juiz apita a falta-amor.

A minha deusa é azul, doce e tão bela
quanto um gol ao final deste amador
soneto, de artilheiro, em minha tela,
que busca a sua meta em cada odor.

A minha deusa é pênalti no último
minuto da final do campeonato...
A copa desejada pelo incauto

poeta atrapalhado e sem escrúpulos,
que rouba a taça e, num verso de assalto,
derrete-se ao sentir o seu contacto.

Namorada


© Nathan de Castro

Vestida de canções, ainda te vejo
num quadro na parede da memória
e o teu olhar acende esse desejo
de tê-la sempre e sempre em minha história.

Porquanto, sigo os trilhos desse brejo
e acendo a luz da antiga trajetória
na espera de encontrar algum lampejo
que saiba o pódio e os louros da vitória.

Eternamente a minha namorada,
a luz destes sonetos que um poeta
apaixonado, escreve, e, não se cansa

de repetir bem alto: -Oh! Esperança,
sem o teu beijo a estrela é esta caneta,
sem teu amor, o verso não é nada!

Sunday, June 11, 2006

Conversando com Paralelepípedos

© Nathan de Castro


Somente o meu poema me retrata
e mostra esta minh'alma dissecada.
No peito, o passo triste, sem pegada,
nas mãos, a noite clara que maltrata.

Lá fora o vento é frio e me intimida.
Sorrio e escondo a voz em uma esquina.
Falar de amor é flor que não combina
co's muros e os asfaltos desta vida.

Tropeço luas, vou juntando versos
nestas calçadas, ruas e avenidas.
Com paralelepípedos converso

e conto histórias velhas, desgastadas.
Como eles não reclamam das mentiras,
o peito sonha e canto as madrugadas.

Saturday, June 10, 2006

Bola Sete

© Nathan de Castro


Não chores sobre o leite derramado,
ainda há leite no ubre da Celeste.
O que passou, passou. Não é pecado
matar a bola usando a mão do reste.

Terias sido olhado e admirado
não fossem as manias de confetes
e as travas dos amores do passado,
quando o amanhã pedia novas vestes.

Querias ser um Rembrant na parede?
Espectador do jogo olhando a bola-
sete brincar de bico, enquanto a roda
do planeta girava à tua frente?

A vida passa e um quadro nunca chora
por tudo o que enfeitou inutilmente.

Friday, June 09, 2006

Três poemas do amigo poeta Renato Silva - O Cidadão das Nuvens

A batalha das aranhas azuis


O meu golpe covarde (e certeiro)
pelas costas do inimigo
fez-se o ventre do qual
nasceram
milhares de estátuas
cada uma com o mesmo
par de olhos tristes que - ao
contrário de minha
boca - fecharei um dia.

Em todo onze de novembro
livres da inanimação graças
ao milagre anual
tais esculturas, em gangue, promovem
arruaças pelos
quatro cantos do mundo celebrando
o que a história não oficial
batizou :
A batalha das aranhas azuis -

Apedrejam vidraças universitárias
ao sul da Califórnia.
Na neve de Moscou, guerreiam, infantilmente.
As Tupiniquins disfarçadas
de escritores consagrados cometem
pequenos furtos
na lentidão dos semáforos.
Aos pés da Torre Eiffel (bem como
no ponto mais alto da Cordilheira
dos Andes) bebem
vinho comem
carneiro fumam
ópio tocam
flauta recitam
meus poemas e agradecem a Deus
pelo feriado não oficial.

Ao final do espetáculo voltam
cambaleando a seus postos e
misturadas às estátuas oficiais retomam
a certeza de que
quase nunca serão
notadas talvez
por um cachorro mijão
ou
sabe-se lá por
um universitário
extremamente
atento.

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A foto de um ácaro


Noite cinco estrelas
Noite menina
Noite bandeira da China

Menina me nina
antes do clarão
que é
bandeira Japão

Lua fatia
de melancia
Lua bandeira da Turquia

Num sonho bobo
lhe arranquei
bandeira u-é-sei

Para fincar a bandeira
de não levantar
jamais bandeira alguma

Lua moondo no fundo
no fundo o mundo
o mundo é coisa nenhuma

e quando digo estrela
é só metáfora a estrela, amor
Poderia ser o fundo
do mar o mar em outra cor

Por isso mesmo anteontem eu
ampliei -de tão sonhador-
a foto de um ácaro
mais de mil vezes no computador.

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Dilúvio


Nuvens carregadas de chuva
pelo vento carregadas
O céu deixa de ser azul uva
e passa a ser uva-passa

No dilúvio quero estar de luvas
pegar a gota e devolver ao céu
trocar a água por fanta-uva
pois sou abelha e me interessa o mel

O guarda-chuva é o guarda
me protege com a farda
(negra como a nuvem escura)

O guarda-chuva é o guarda
o meu fogo se resguarda
e fidelidade jura.


Cidadão das nuvens
Renato Silva

Thursday, June 08, 2006

Sede de Voar

© Nathan de Castro


A minha sede de voar vem de muitos pássaros.
Quando criança, saltei de cima da caixa d’água
com um guarda-chuva. Algumas escoriações
e a certeza de que nunca seria um pára-quedista.
Aprendi a voar no encanto das páginas dos livros.
Visitei mundos desconhecidos, cidades submersas,
planetas habitados por plantas carnívoras

e guerreiros gigantes.
Queria mais. Queria voar com asas de condor.
Na juventude, descobri o medo das alturas após
a primeira e última aventura num mono-motor...
Certo dia eu me encontrei voando ao encontro do
desconhecido mundo das palavras.
O batismo veio com a água da paixão, mas o destino
me havia reservado outras missões.
Por séculos e séculos vaguei perdido e colecionando
penas para cumprir o vôo da sobrevivência.
Já próximo ao fim da jornada, me deparei com a poesia.
Aquela, a mesma da criança que saltava de cima da
caixa d’água com um guarda-chuva.
Como era simples voar!
Hoje, as escoriações são mais profundas e todos
os planetas são habitados por palavras de saudades.
Um canto de paixão brota de cada poro dos poemas.
Eu, canto.

Wednesday, June 07, 2006

Bailado do Amor Maior

... E, grávida, de amor, se fez paixão
e ao seu silêncio ousou toda a beleza
das luas, tantas, quantas... Da certeza
do véu que envolve a mágica canção.

Barriga... Seios... Ah! Doce estação
que encanta-se em poesia; a Natureza
faz festa e exibe os polens da indefesa
Flor que sussurra um verso temporão.

Como explicar o gozo do momento
de luz no seu olhar, se o encantamento
é bem maior que as rimas do Universo?

Se em sonhos eu lhe vejo solta ao vento,
num bailado de Lua... A vida, o berço...
Nós, astros refletidos num só verso!?

Com Receita de Adélia

© Nathan de Castro


Adélia, Adélia, Adélia, Adélia, Adélia,
deixe que eu cante os sonhos das Gerais.
Cante a cozinha e o encanto da bromélia
que sabe a solidão dos seus quintais.

Só sei falar de amor... Sou coisa séria,
poeta, louco e em busca dos portais
que me levem às luas de Quitéria,
disfarçado de bardo... Os temporais

das letras não conhecem os temperos,
a salsa, o coentro, as rimas das paixões,
arroz, polenta, couve e os seus tropeiros

toucinhos de palavras e emoções...
Dê-me a receita, as letras e os esmeros
para que eu vista os sonhos nas canções.

Tuesday, June 06, 2006

Resenha: 1001 Noites de Sonetos & Rabiscos - por Lílian Maial

Para adquirir o livro:
depósito no Banco do Brasil S/A
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cc/ 11800-1
Nathan de Castro F Jr
Vlr. R$ 20,00
e mande-me o endereço para: nathan.jr@netsite.com.br



1001 Noites de Sonetos & Rabiscos - de Nathan de Castro
Resenha do livro “1001 noites de sonetos & rabiscos”de Nathan de Castro® por Lílian Maial*1) CapaA beleza e simplicidade do livro começam pela capa: é limpa, em tons de caramelo, já expressando a doçura dos versos, a neutralidade das intenções sinceras, sem deixar de haver o toque vermelho no nome do autor, o que pode traduzir a agitação, o contraste e a paixão, que vertem do seu âmago.

2) SumárioA ausência de sumário, no livro, pode estar indicando que todos os poemas são o mesmo – um auto-retrato - ou que todo o livro é um poema, como se o autor não conseguisse enumerar os fragmentos de sua alma peregrina.
3) IntroduçãoNathan de Castro, nesses seus 109 poemas, entre livres e sonetos, exprime sua íntima relação com os astros e seus mistérios, com a solidão – muitas vezes companheira e amiga (“Senhora Solidão”) - e com as paixões, que movem o poeta em sua trajetória. Ele vai muito além do poeta. Em suas viagens, redescobre a vida e a morte, e chora o amor.
4) Descrição do assuntoO livro “1001 noites de rabiscos & sonetos” é repleto de lirismo, descortinado através de um amor não concretizado, ou interrompido, ou mesmo não conhecido. A cada novo poema, novas viagens, novas emoções, porém com aquele gosto conhecido de café fresquinho do interior de Minas, com as margens delimitadas pela poesia, com a certeza de uma surpresa dentro de uma embalagem amiga, acolhedora, terna.O poeta se mantém fiel, desde a primeira até à última página do livro, em seu intento de não querer agradar ao leitor (mesmo agradando), nem pretendendo ser estrela, apenas deixando fluir o rio de amor que jorra pelos versos. Nathan não se detém diante dos apelos pós-modernistas e contemporâneos de concisão e concretude, ao contrário, ele descreve um mundo de sonhos, vez por outra resvalado em abismos de solidão, salpicado de poemas de lembranças de um passado, tão proximamente remoto, quanto elegante e, necessariamente, distante, que gravitam ao redor de uma realidade sem maiores possibilidades, dentro de métrica e rimas das Gerais, dos sonhos, e de um poeta, que o subjuga e enaltece.
Em alguns de seus poemas como: “Coração de Maria-Fumaça”, “Funerária”, “Caveiras de Abóboras Sorridentes”, “Casa Enferrujada” e “Pedras Apaixonadas”, o poeta discorre sobre um mundo de lembranças vivas (“Coração trem-mineiro singrando pelos vales, montanhas e lugarejos esquecidos no mapa das Gerais”), de traquinagens dos tempos de menino (“Moleque que treinava para poeta, cavando cavernas e construindo casas de bambu e pita”), de homem perplexo com as mudanças da modernidade (“O casarão e a Rua do Internato já não abrigam sonhos de criança”), e, em outras vezes, mostrando que guarda o passado em um pote de mel (“Asas de borboleta e as sombras das paineiras ficaram na colméia de sonhos, no enxame das letras e varandas dos meus fins de tarde”), ou em uma fotografia mágica (“Pedra de poesia retirada do coração da serra, e que tem, incrustados, os amores dos galhos das estações de luas e saudades. Pedras Apaixonadas!”).Já nos poemas “Ausência”, “Canção de Amor”, “Contando Lobos”, “Soneto Chorinho”, “Auroras” e tantos outros, a saudade e a solidão são a tônica, escancarando o coração do poeta que habita o poeta, aquele que teme a dor do amor, o que abomina a luta e as rotinas, e busca na memória - nem sempre vivida - o refúgio para essa ausência de matéria, de personificação do sentimento. Quem sabe o poeta nunca tenha amado, ou ainda espere a encarnação do paraíso? (Feliz quem sabe o amor nos galhos da estação e voa na poesia sem tocar o chão... ausência de palavras não lhe mete medo”).
No poema “Senhora Solidão” o próprio poeta reconhece a sua insistência, quase desejo: “Senhora Solidão, aceite o abraço deste poeta amigo e de um só tema.”Como se autodenomina “poeta argonauta”, em seu livro não poderiam faltar viagens alucinantes pelo reino da fantasia, a começar pelo poema-título “Mil e Uma Noites”: “Na solidão do meu silêncio busco as madrugadas no fundo de oceanos com dragões, duendes e fadas das mil e uma noites de sonhar vinte mil léguas e os quarenta ladrões da inspiração não me dão tréguas.” Em “Poeta Argonauta” ele viaja mais: “Marujo velho e amigo das estrelas, ao brilho de Canópus me entreguei, para beber da luz e absorvê-la, mas nada... meu poema não achei.”
Mas o mais interessante neste livro de Nathan de Castro, é que ele, lembrando o cineasta Woody Allen, ri de si mesmo e de suas andanças atrapalhadas entre rimas tortas e versos sem razão (“Hoje eu vi um sabiá comendo alpiste na porta de um soneto atrapalhado, e o canto dos pardais na tarde triste, calando este meu verso desbotado.”). Em “Soneto Piegas”, o autor zomba do poeta que vive dentro dele: “Não zombes dos meus versos despejados. Bem sabes que, de ti, vêm estas luas, com todas as histórias e os bordados, que arrastas dia e noite pelas ruas.”.
Nathan oscila entre a certeza de que o verso é banal - e para nada serve - e a intuição de que ele é fundamental: “Ele é o espelho claro dos palhaços, que não sabem de estrelas... só de abismos.”Por fim, libera o dragão que solta “labaredas de versos pelas ventas”, mas que engole as brasas incandescentes de paixões sem final feliz, como se uma inércia de anestesia ocupasse seus nervos e sinapses, tendendo a mantê-lo prisioneiro da poesia: “O meu dragão navega e aporta caravelas-solidão de escrever poemas, nada mais.”Em “Epílogo”, uma promessa nas entrelinhas: “Talvez eu solte o verbo e bata as minhas asas, talvez o verso em paz alinhe os desenganos, talvez, quem sabe, a dor retorne às águas rasas.”
5) Apreciação CríticaO “1001 Noites de Sonetos & Rabiscos” é um livro para se ler e reler com o espírito da poesia romântica, que canta as dores de amor, a solidão, a saudade e a inquietação. Porém, Nathan de Castro não rasga, em seus poemas, o amor a uma musa de carne e osso e figuras celestiais, como no simbolista Alphonsus de Guimarães:“Celeste... É assim, divina, que te chamas.Belo nome tu tens, Dona Celeste...Que outro terias entre humanas damas,Tu que embora na terra do céu vieste?” ( PULCHRA UT LUNA – Alphonsus de Guimarães)Nathan prefere a musa que não conhece, aquela por quem o seu poeta espera, e que, enquanto não vem, deixa o poeta de braços dados com a Senhora Solidão:“Procuro o teu olhar, as tuas linase todas as florestas que eram minhas,para fechar, no peito, estas clareiras.” (CLAREIRAS – Nathan de Castro)Em alguns poemas, como em Chorinho, percebe-se a nota triste de uma juventude de tempos idos, não tão intensa, como nos versos do neoparnasiano Humberto de Campos: “Nada: ao fim do caminho percorrido, o ódio de trinta vezes ter jurado e o horror de trinta vezes ter mentido!”(RETROSPECTO – Humberto de Campos)“Pandeiro e violão: instrumentos do crime.Polícia e camburão, sol nascendo entre as grades.E tudo em Patrocínio era felicidade! (CHORINHO – Nathan de Castro)Talvez não tão efusivo como J.G. de Araújo Jorge, mas em alguns poemas seus, Nathan se encaixa com perfeição: “Amo os rios! E a estranha solidão em festa,dessa alma que possuo multiforme e inquietacomo a alma multiforme e inquieta da floresta!”(AMO! - J.G. de Araújo,Jorge)“Vai cheio de mato, saudades ao vento,pingado de chuva, brindando ao momentoe às águas que jorram poemas de lua.”(POEMA DE LUA – Nathan de Castro)Ou nos de Manuel Bocage: “Deus, ó Deus!... quando a morte a luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.”(SAIBA MORRER O QUE VIVER NÃO SOUBE – Bocage)“Mistérios dessas noites de chorinhos,Limo no peito e a dor de cachoeiras.Saudades de acordar pingando estrelas!”(CACHOEIRAS – Nathan de Castro)
Não posso afirmar que a inspiração dos poemas de Nathan de Castro venha de Florbela Espanca, de Fernando Pessoa, ou de Bandeira, que muitas vezes lembram verdadeiras maravilhas desses autores. No entanto, em seu centenário, certamente Mario Quintana teve muita influência nos versos deste poeta, como em seu soneto “Os Parceiros”:“Insiste em quê?Ganhar o quê? De quem?O meu parceiro...eu vejo que ele temum riso silencioso a desenhar-senuma velha caveira carcomida.Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...Como também disfarce é a minha vida!”(OS PARCEIROS – Mário Quintana)“Ah! Vida, vida... Enquanto a voz do tempo passa,Eu passo medicando as marcas das esgrimasE suturando sonhos, paixões e saudades.”(ENQUANTO A VOZ DO TEMPO PASSA – Nathan de Castro)
6) Considerações finais:A cada geração de escritores, mais e mais se buscam alternativas aos clássicos, numa tentativa de “fugir às cópias”, de inovar, de não ser um poeta à imagem e semelhança de outro. Contudo, o que move o poeta é a beleza, e a beleza não pode ser medida, mas sentida. Então, dizer que um autor é melhor ou pior que o outro, apenas pela sua capacidade de inovar, de criar maneiras diferentes de fazer e dizer poesia, é algo tão insensível, quanto afirmar que o nascer e o pôr-do-sol são monótonos e repetitivos, uma vez que a mesma cena se refaz, incansável e deliciosamente, a cada novo dia.A poesia de Nathan de Castro é um nascer do sol em cada página, e resta aos leitores a descoberta das diferenças em seus versos, assim como as proporcionadas pela natureza.A técnica que Nathan de Castro emprega em seus sonetos é bastante correta e musical, embora não se prenda a elas para uma discreta quebra aqui ou ali, que só fazem beneficiar o poema.Não há erudição redundante, ao contrário, a beleza de seus versos encontra-se na simplicidade mineira e no aconchego de noites de frio e som de grilos, onde se chega a sentir o cheiro do mato, do café e do pão de queijo.O livro traz muita satisfação ao leitor que se interessa por poemas de amor e saudade, de lirismo e romantismo, de beleza e tristeza de mentira. Sim, porque todo poeta é um fingidor...
6) Referências Bibliográficas:- Alphonsus de Guimarães - Dona Mística (1899); Kyriale (1902), ;A Escada de Jacó (1938); Pulvis (1938);- Humberto de Campos – Poesia completa – 1933;- J.G.de Araújo Jorge – “Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou” – 1963, 1966, 1970;- Manuel Bocage - introdução a "Sonetos" e "Poesias Várias", Lisboa, 1943 – Vitorino Nemésio; - Mário Quintana - Poesias (1962); Antologia Poética (1966), Prosa e Verso (1978), Nova Antologia Poética (1981).**************
Lílian Maial é escritora e poeta carioca.
Carioca, médica, escreve desde a infância, mas somente através da Internet, em início de 1998, que teve oportunidade de ...
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Monday, June 05, 2006

Soneto com Nó

© Nathan de Castro


Cobertor de poeta é um agasalho,
que não serve aos anúncios da estação.
Quando frio, reveste-se de orvalho,
no calor, logo abraça a solidão.

Se num verso me cubro, noutro falho
e revelo o outro lado da canção.
As mentiras aceito e delas valho-
me, mesmo quando o peito diz que não.

Da pena à folha branca, me atrapalho
com os verbos e tempos da oração,
vou perdido e com passos de espantalho

sigo os trilhos abertos na emoção.
E, no ponto final, quebrando o galho,
dou um nó no soneto e lavo as mãos.

Sunday, June 04, 2006

Viver por tanta Estrela /// Das Pétalas e Estrelas

© Nathan de Castro

Preciso ouvir um beijo em tua mão,
para que eu viva a paz de tanta urgência.
Sou pétala de estrela e sou carência,
quando a saudade toca o violão.

Não sei de tabuada... Da ciência
da flor só sei as contas da emoção...
As equações do amor, sem consistência,
não vestem minhas rimas na canção.

Só sei que desta paz quero a cadência
da música que espanta a solidão
do verso atrapalhado e sem clemência,
que não conhece as luzes da estação...

Por tanto amor, abraço a tua ausência...
Por tanta estrela, eu quero esta paixão!


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© Lílian Maial


A estrela é sonsa e pisca - inatingível!
De tantas explosões, se faz quimera.
Nos sonhos do poeta, é impossível:
É brilho de ilusão, que desespera.

A pétala é tão frágil, perecível,
É murcha em pouco tempo, tão singela!
E o amor, que é a marca d'água do indizível,
Perdura, nessa paz que o peito gera.

Pois quando a vil saudade toca o sino,
Chamando a solidão e o desatino,
E o medo toma conta da canção,

É só nutrir de luz a estrela triste,
E acreditar que a nova flor resiste,
Germina em solo fértil de paixão!

Saturday, June 03, 2006

Devaneios

© Nathan de Castro


Não rabisquei poemas no teu colo,
mas deixei nele as marcas dos meus dentes,
e foram tantas marcas que o consolo
dos beijos se faziam sempre urgentes.

Não naveguei canções no teu pescoço,
mas afoguei a língua nas enchentes
dos veios transbordados no alvoroço
das chuvas de cristais incandescentes.

Hoje, o silêncio é amigo dos sonetos,
que se vestem de estrelas, sem poesia,
— Poesia é o sumo doce dos teus seios —,

mas neles guardo os sonhos incompletos
e cumpro a sina e solto a cantoria,
tingindo de saudade os devaneios.

Friday, June 02, 2006

Não sei tocar a vida sem paixão

© Nathan de Castro


Se busco um novo tom de voz, os ventos
celebram os acordes, mas a mão
do verso não aceita os pensamentos
e espalha as folhas secas da estação.
Penas de solidão!... A passos lentos
o outono segue os trilhos da ilusão,
e a estrela da saudade traz momentos
de angústias e incertezas. A explosão
da música provoca alagamentos
no peito sem guitarra e violão.
Oh! pássaros de grasnos agourentos,
que fazeis sobre as claves da emoção?
Deixai que eu sinta a dor dos instrumentos,
não sei tocar a vida sem paixão!

Thursday, June 01, 2006

Soneto Urgente

© Nathan de Castro


Fazem-se urgentes, o abraço de acalmar a alma,
o travesseiro e o ombro amigo do melhor
amigo. No poema, o amor sem dor ou trauma,
para que o verso aprenda a paz em sol maior.

Fazem-se urgentes, a música dos olhos dela,
a cotovia e o beijo surdo do silêncio
amigo. No poema, a voz que canta a estrela,
no imprescindível chão da flor de amor do Cântico

dos Cânticos. Faz-se urgente a lua cheia,
carpindo os espinheiros de palavras tortas
e, independente, da poesia sempre alheia,

faz-se urgente abrir de vez minhas comportas.
Tanto me falta, tudo é urgente, e volta e meia,
esqueço que a vontade é a chave dessas portas.

Luzes da Cidade

© Lílian Maial


Na boca fria
a noite quente
teus dentes me sorriem fel
tua língua me corta
navalha afiada
tola gargalhada
e vem o silêncio
a morte nos medos
golpe lento e preguiçoso

A carne estremece
há cheiro vazio
bolor de dúvidas enganos
velhos e cerzidos planos
há becos, bocas, bodas
...e nada me agrada

A cidade na janela é outra
que os olhos destilam
surda de espaços
há esse cansaço

sem cama sem lua
sem tinta sem letra