Tuesday, April 17, 2007

Penas de Poesia


© Nathan de Castro

Não gosto de poucas palavras.
Sou a essência dos excessos.
Não reconheço a paixão sem a explosão dos beijos.
Vez por outra, acredito em atração fatal.
Eu, que já morri de amor por tantas vezes, às vezes,
penso que o amor é coisa de outro mundo.
Disseram-me que paixão é pecado: luxúria.
Não existe perdão para um poeta!
Somente a anistia para os versos de gaveta.
O amanhã?... Quem sabe, outro poema?
Palavras, palavras, palavras! A madrugada é nossa
e veste os trajes das flores de abril.
As noites de outono me dizem tantas letras que penso
que todos os versos só brotam na estação
de folhas secas.
O amanhã guarda o silêncio das canções.
Poesia?... Sim.
Amanheceu novo dia.
Lá fora os pássaros voam num bailado feliz de poesia.
Trinados, trinados, trinados!
Meus pássaros têm somente penas de poesia.

Palavras, palavras, palavras!

Thursday, April 12, 2007

Palavra


© Nathan de Castro



Palavra lavra
Palavra terra
Palavra nada
Palavra emperra.

Palavra crava
Palavra serra
Serra a palavra
Palavra guerra.

Nasce outro dia
Palavra sorte...
Onde a poesia?

Palavra forte
Quanta agonia
De sul a norte

De leste a oeste
Palavra agreste
Palavra morte.

Sunday, April 08, 2007

Com a Licença Poética das Águas


© Nathan de Castro



Quando nasci, caiu um temporal em Olhos d’Água.
Trem mineiro, coisa de janeiros, coisa de aquário,
verão: eu outono, sempre!
Não há anjo que se atreva a enfrentar tempestades
tropicais. As asas pesam.
Minha tia disse: __É feio, demais! Tem a cabeça torta.
Minha mãe falou: __ Poesia.
Raios, raios, raios e trovões.
Nasci homem, com os olhos rasos d’água, homem com
os olhos rasos d’água é coisa de outro mundo.
Não ouvi trombetas. Até hoje, ouço flautas, cavaquinhos,
guitarras, baixos e violões. Baleias me dizem sim.
Sem pedir licença, dobrei o cabo da boa esperança
e sobrevivi.
Sou dobrável e a minha tristeza veste a cauda de piano,
aquele, no qual Ray Charles teve a visão do nada.
Adoro Adélia. E Ray Charles, claro.
Cego é quem não vê a poesia de cada amanhecer
quando ouve: "I can't stop loving you" na voz do mestre.
O tempo passou. Tudo passa. Mas a vida é bela.
Já usei barba e bigode, agora resolvi mostrar a minha
verdadeira cara. Afinal, não me chamo Raimundo.
Meu DNA tem a forma de soneto, mas vez por outra, sou
surpreendido pelos climas outonais e clamo pelos delírios.
Droit & Croissant...
Toda a culpa está no vírus das palavras que vertem paixões.
Quando nasci, diabos, eu nem falava, mas já aprendia a poesia
das águas.

Monday, April 02, 2007

Os Meus Sonhos ( ou, 1º de abril )


© Nathan de Castro


Os meus sonhos são poucos, como pouco é o tempo
para o verbo amar.
Os meus sonhos têm olhos que pervagam o infinito,
na busca pelo verso perdido entre as estrelas.
Sei pássaros multicoloridos, rochedos,
ondas, areia e o definitivo azul do mar.
Os meus sonhos caminham por montanhas, desertos,
serrados, bailam num luar de prata polida pelos
lábios da paixão, vestem trajes de poesia e caminham
de mãos dadas com as cores das estações, clamando
por amores verdadeiros e pelos lábios dos haicais!

Primeiro de abril...
O outono dita o poema
no canto do bem-te-vi.

Os meus sonhos são livres. Eu trago algemas,
tristezas morenas, saudades pequenas e essa coisa
da mágica triste, a cada despertar.
Da minha janela,um céu rubro chama o dia...
Carícias de abril.
Os meus sonhos têm os olhos de outono e precisam de delírios.
Dêem-me delírios e lhes entrego todos os meus versos!

Delírios, delírios...
As quaresmeiras exalam
o perfume roxo.

Dêem-me perfumes e lhes entrego todos os meus sonhos!

Todos os perfumes:
folhas secas pelo chão...
Aquarela de sonhos.

Dêem-me folhas secas e eu planto um novo sonho para
a próxima estação, ou rabisco outro poema pobre, como
pobre é essa saudade tola que me estende a mão.