Wednesday, November 29, 2006

Grafitrix - © Nathan de Castro


Grafitrix - © Lílian Maial




Mais Grafitrix - © Lílian Maial



Alguns Grafitrix - © Lílian maial





Monday, November 27, 2006

Soneto em Branco & Preto


© Nathan de Castro


No espaço do passado, este quarteto
caminha pelos palcos de um enredo
que encena o teu sorriso e este meu medo:
morrer de amor. Dispenso o cianureto,

prefiro a morte lenta — em branco & preto —
para aprender as galhas do arvoredo
e um dia reencontrá-la ao sol, bem cedo,
nas nuvens que circundam o meu soneto.

E quando a luz soar os meus badalos,
para que eu viva a paz da eternidade,
permita-me, oh! Senhor, esta saudade.

Deixa que eu leve os sonhos, a poesia
e as emoções que o verso propicia
ao me lembrar dos lábios tão amados.

Thursday, November 23, 2006

Voz da Solidão


© Nathan de Castro


Distante do seu corpo e seus abraços,
meus braços esticados pro infinito
procuram no vazio por um grito
que corte um verso frio feito aço.
Distante dos seus beijos meus espaços
são passos que aprendi quando criança,
espalham vidros, cacos, estilhaços
e vou chutando as pedras desta dança.
Atrapalhado encontro a noite escura
como a esconder um canto de aflição
e mesmo o som, que o vento em paz murmura,
soluça pó, poeira e o coração
explica a dor e no peito sussurra:
desafinada é a voz da solidão.


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Poema musicado pelo compositor paraense Eduardo Dias.

Sunday, November 19, 2006

Luto de Poeta ( Na passagem do amigo poeta Nel Meirelles )


© Nathan de Castro


Quando morre um poeta, o meu poeta
faz brinquedo do verso e, na emoção,
dita o sonho à poesia que, incompleta,
pede às trevas a luz da solidão.

Vai, poeta!... De volta ao teu planeta!
Este mundo é pequeno, pouco é o chão
e a esperança de amor nem sabe a reta
das palavras eternas da paixão.

Novas letras e rimas!... Novo dia,
asas mágicas, vôos de condor...
A verdade e os mistérios da poesia:

-tem nas mãos o perfume do esplendor!-
Num sarau, no infinito, a liturgia:
sê bem vindo, poeta, e esquece a dor!

Friday, November 17, 2006

Flores do Pó - © Lílian Maial /// Safra - © Nathan de Castro


SAFRA
© Nathan de Castro
Soluça o corpo magro, sente o frio,
e o prato de promessas não sustenta.
O peito analfabeto está vazio,
quer prato da farinha que alimenta
o filho.

A lágrima da fome apaga a vida
nos olhos da criança desnutrida
e a página da fome apaga o brilho
dos discursos jogados sobre os rios
de lama.

E a esperança de pão, velho projeto,
que assenta
famílias de sem terra e sem escolas,
se perdem nas entranhas de prospectos...

E esmolas
serão distribuídas no natal,
depois de anúncio em rede nacional
da nova safra recorde de milho,

de soja
de trigo
de leite
da fome
miséria
da dor

e o grito cresce preso na garganta,
revela um ano novo, sempre antigo,
e a música que toca o povo canta
co’a voz que cala e sempre busca abrigo
na sorte
ou
na morte.

FLORES DO PÓ

Lílian Maial
Vida apressada, angustiada,
absorta em pensamentos pequenos,
dor disfarçada em mau humor,
pouso os olhos no menino, ali, dormindo.
No meio da rua, entre carros, passantes,
cachorros e passarinhos destoantes,
mãozinhas sobre a cama papelão,
agarradinho, inocente, no corpo do irmão.
A mãe sofrida, sentada no chão sujo,
tentando esconder a vergonha e a fome.
À frente o pai, derrotado enquanto homem.
A dor oprimida no peito, o não conseguir engolir,
ver assim alguém tão só,
uma família – flores do pó.
Ah, a cruz! Preguem-me na cruz!
Quero morrer por eles, morrer por mim!
Inerte, covarde, torpe!
Nada a fazer, senão sofrer?
Não tem remédio, senão chorar?
Menino dormindo como o meu,
como os nossos,
sonhando sonhos de criança,
luzes e festa,
brinquedos e paz,
sorvete, banho, banheiro.
Alegria o ano inteiro.
Perdeu o endereço do céu,
Mas espera Papai Noel.
Aquele pai e aquela mãe,
sem teto ou dignidade,
não sabem, da missa, a metade!
Não choram, apenas pedem que a sorte mude
e os ventos tragam a esperança
e o sorriso do menino,
que dorme ali no chão, tranqüilo,
ao relento, desprotegido.
A leoa de dentes arrancados,
o guerreiro sem escudo, sem lança,
sem conseguir defender sua criança...
Olhar vazio, alma apagada,
sem ter mais nada.
Nada a oferecer, senão seu corpo.
Nada a pedir, senão o pão.
E eu, e você, o que fazemos?
Vamos embora, consciência confortada
afinal, nada podemos fazer,
não temos o poder!
Qual nada! Eu posso. Você pode.
Mas é difícil, é cômodo.
Você tem lar.
Eu tenho pão.
Eles é que não...

Wednesday, November 15, 2006

Soneto Insone


© Nathan de Castro


Quando a canção de amor se faz ausente,
perco o trinado e, as rimas da emoção
soam tão fracas, pobres... Simplesmente,
palavras sem os lábios da paixão.

A noite exige o abraço, o beijo urgente
e o quarto espera o baile no colchão...
Tudo é saudade e a lua, de repente,
exibe um céu sem nuvens de algodão.

Tão tristes, o edredom e o travesseiro,
que guardam doces sucos de alvorada,
não dizem nada, nada, nada, nada!

A insônia esmaga o verso feiticeiro
e o meu poeta vara a madrugada
com medo de acordar a passarada!

Saturday, November 11, 2006

Palavras de Oceanos


© Nathan de Castro


A poesia das águas me acompanha,
faz água em meu navio com guirlandas
tão velhas, carcomidas pela sanha
dos sais acumulados nas cirandas.

O tempo passa e as águas de lavandas
lavam o sonho e um rio em mim se assanha,
polui as madrugadas com nefandas
saudades, vinho e taças de champanha.

Tem líquido demais!... São tantas lágrimas,
que brotam cachoeiras nessas páginas
de lagos transbordados de ilusões...

Mas tenho a eterna e doce flor dos plácidos
riachos de águas límpidas, e as mágicas
palavras de oceanos e paixões!

Sunday, November 05, 2006

Para Escrever um Soneto ( Luta de Esgrima )


© Nathan de Castro


Conta até seis e bate o pé no chão,
quando chegar a dez, prepara a rima...
O primeiro florete está na mão
e a mágica do sonho se aproxima.

Deixa que flua a conta da emoção,
sem ela o peito esfria e desanima...
O segundo combate é o da paixão
e sabe a solidão de quem esgrima.

O sabre exige pulso e coordenados
movimentos perfeitos nos espaços...
Um toque na cabeça, tronco ou braços,

pode levar-te à lona dos tablados...
Mas se vencer, amigo, comemora
e, te prepara: - um louco em ti se aflora!

Friday, November 03, 2006

A Benção, Camões!


© Nathan de Castro


O tempo passa, passo o verso em branco
e, passo a passo, traço outro esqueleto,
marcando a rima ao som desse tamanco,
tão velho e conhecido do soneto.

Sei nada, mas do nada inda alavanco
um tango que permita-me o amuleto
para dizer:__Camões, meu peito é manco,
mas tenho o sonho e o sangue de bisneto.

Tataravô, tu tacharias: louco,
um descendente e torto de saudades,
quando os quatorze pintam muito ou pouco?...

Castro Ferreira assino, e as liberdades
bem aprendi cantando e, hoje rouco,
risco paixões ao som das tempestades!