Friday, September 29, 2006

Para Esperar a Noite


© Nathan de Castro


Eu já morri de amor por tantas vezes,
mas sempre volto em busca da emoção
que inflama no meu peito esses quereres
de ter os teus lindos olhos na canção.

Passam os dias, passam, passam meses,
morro outro ano e nasce outra paixão...
Ao fim, sei que cumpri com os deveres
de apaixonado e estúpido artesão.

Tecendo versos, sigo outro setembro,
trago na mala os beijos que relembro
em cada canto e em cada melodia...

Mas quando a noite, enfim, vier ao vento,
quero levar o encanto do momento
do encontro do luar com a poesia.

Wednesday, September 27, 2006

Narciso


© Nathan de Castro


Cavalos galopavam nas campinas
com as crinas ao vento, - Liberdade! -
enquanto o azul cantava o céu de Minas.

Bando de garças... Ah! Tranqüilidade
dos vôos de vitórias e esperanças,
quando o rio acenava o fim da tarde.

Os peixes saltitavam, e as crianças
sorriam das canções de águas correntes
e dos redemoinhos, feitos danças.

Silêncio nas marolas reluzentes!
E a lua cheia e pálida de espanto,
olhava-se no espelho transparente.

Narciso, ah! Narciso, todo o encanto
das telas das Gerais seguem comigo,
brincando nas saudades do meu canto.

Narciso eu sou!... O rio é meu amigo.
O seu espelho é prato de poesia
para saborear... E enquanto sigo

na busca do cardápio que alivia
meu peito de poeta apaixonado,
relembro os sons da antiga melodia.

O velho, o novo, e sempre lado a lado
com esse canto mágico que um dia

beijou Luana... O espelho... Meu pecado!

Friday, September 22, 2006

Bicho Tonto


© Nathan de Castro


O canto das cigarras orienta:
é tempo de escutar a primavera
e absorver o perfume que libera
o som, que nestas tardes me sustenta.

Também os meus amigos, loucos tontos,
besouros, aleluias e outros bichos,
voltaram a testar velhos caprichos:
zombar da paciência dos meus pontos.

Loucura? Quem diria, a noite é céptica!
Fecho a janela e apago a luz do quarto,
e estes insetos vestem meu retrato

de bicho tonto, torto e sem estética,
que tromba nas paredes desta vida,
em busca de algum conto de partida.

Soneto de Primavera


Lilian Maial


Hoje me penso atrasada em florir

E na função primavera de cor,
Adubaria e regava esse amor,
Acelerando o botão a se abrir.

Contaminados os caules – banir!
Isolamento sem danos à flor,
Que na frescura do vento cantor,
Expõe a pétala ao sol sem sentir.

Sábias raízes de vida invernada,
Clone mais livre a cada nova poda,
Regenera-me em seiva imaculada.

De galhos abertos, como um abraço,
Espalhando na brisa gozo e pólen,
Sou mais florida nos versos que faço.

Thursday, September 21, 2006

Poema de Areia


© Nathan de Castro


Lá vai um poeta na praia deserta,
banhado de sal e paixões das marés.
Caminha a incerteza da onda que oferta
pedaços do mundo jogado aos seus pés.

Navios aportam sonetos de alerta
e o grito vem alto do velho convés
caiado ao betume da vida encoberta
por névoas e sonhos que o tempo desfez.

Avante, poeta!... Escala o rochedo,
esquece as espumas, saudades, e areias.
Navega delírios, gaivotas, sereias

e todos os segredos do verbo aloucar.
Levanta essa âncora e abraça esse medo...
O medo é o troféu para quem quer voar!

Wednesday, September 13, 2006

A Tua Boca


© Nathan de Castro


Da tua boca, eu quero o mel de estrelas:
veneno da saliva, que me traz
essa saudade doce das janelas
abertas para o vento azul da paz.

Da tua boca, eu quero a língua audaz:
caminho para as luas e aquarelas
dos versos na lembrança, que desfaz-
se em mil sonetos, sempre à luz de velas.

Da tua boca, o gosto, o céu dos dentes
- cravado em minha pele - e a tatuagem
fazem silêncio, e o encanto da paisagem

espera o beijo e as presas indecentes...
Por mil perfumes, sumos... Ah! Presentes
para um poeta em busca da viagem!

Tuesday, September 12, 2006

O Teu Olhar


© Nathan de Castro


O teu olhar é a pérola dos sonhos
que o meu poeta teima em desvendar,
lapidando os sonetos enfadonhos,
que jorram das entranhas do seu mar.

A tal distância e os rios tão tristonhos
vertem poemas tortos... Tanto amar
não pode ser somente esses medonhos
momentos de tristezas ao luar

O fogo que aprendi tem mais folia,
tem a esperança, o encanto, a fantasia,
a mágica da cama, a lua e a estrada...

Do teu olhar eu quero a luz do dia,
a letra, o beijo e a língua da poesia,
para escrever meu verso e dizer nada.

Sunday, September 10, 2006

Latifúndio


© Nathan de Castro


Quando no peito bate o som do avesso
de um verso torto e aflito, o meu perdido
poeta tolo aceita o tom, o excesso
e lança ao vento o canto arrependido.

Armado até os dentes, pago o preço
tão alto quanto as contas co’as quais lido
no dia-a-dia, pouco, onde me estresso,
para cumprir meu mundo sem sentido.

Consumo a dor, não perco a propaganda
e abraço as condições que me aliviam
do peso amargo e pobre dos meus dias...

Tudo é tão fácil... A música e a ciranda
do tempo são cruéis e sentenciam:
crédito aberto à morte e às fantasias.

Thursday, September 07, 2006

Apologia


© Nathan de Castro


Não sei se vou, se fico ou se permito-
me voltar pela estrada de onde eu vim...
Por não saber a cor do veredicto,
vejo o tempo passar, branco ou carmim.

Se vou, não sei as contas do infinito,
se fico, a luz me cega e perco o fim
do filme desta vida, que grafito,
em versos, por saber-me passarim.

Mas nada paga o peso que, admito,
rasga as entranhas, quando digo sim.
O sim sai fraco, pálido, inaudito

e o não logo se espalha em meu jardim.
Assisto à luta e, dito por não dito,
mando outra dose... Vinho tinto ou gim!

Tuesday, September 05, 2006

Aurora Breve


© Nathan de Castro


Herdei o nome, os mimos dos meus pais,
de um irmão que partiu antes da aurora
e, sempre, quando chegam temporais,
penso que a mão da morte está lá fora.

Nasci dos aguaceiros e os sinais
do tempo fazem jus de, à mesma hora,
derramar tempestades tropicais...
Nas tardes de janeiro, o verso chora.

Amor de pai, de mãe?... Senhor, bem-digo!
Meus oito irmãos, meus cantos, meu abrigo,
e essa esperança azul que me protege...

Hei de cantar paixões!... Todo perigo
me encanta, pois a estrela que me rege
é a estrela desse irmão, de Aurora Breve.

Monday, September 04, 2006

Para Cantar o Amor Maior


© Nathan de Castro


Teu nome está gravado com punhais de estrelas
nos troncos dos sonetos que guardo no peito,
mas nestes que rabisco não consigo as telas
e as pétalas das letras de um verso perfeito.

Como explicar o amor, com tinta de caneta,
nas árvores de um sonho feito de aquarelas,
se as cores das palavras saltam da paleta
e as mãos do meu poeta não conseguem vê-las?

Ah! mágica Poesia Azul, qual o segredo
para escrever a dor com versos soberanos,
sem respingar saudade e luas nos pianos?

Me ensine essa canção feliz do passaredo
e a música das ondas beijando o rochedo,
para que eu cante o amor maior dos oceanos.

Saturday, September 02, 2006

Maria


© Nathan de Castro


Preciso te falar de amor, de amor, Maria.
Mostrar meu velho livro, livre, leve e solto
e em teu sorriso ousar brincar de ventania
num novo verso torto, livre, leve e solto.

Talvez, cantar teus olhos e toda a poesia
de um sono apaixonado, livre, leve e solto
e amanhecer nos braços dos lençóis: folia
do sol que chama o dia livre, leve e solto.

Paixão não custa nada quando a melodia
repete o som do verso livre, leve e solto:
beijo na boca, a cama, o abraço e a fantasia

de desvendar teus lábios, livre, leve e solto....
Se um sonho pode o olhar de luz, - Fotografia. -
pode avivar as chamas do meu mar revolto.

Serenata Para Uma Estrela


© Nathan de Castro


Quero os meus versos simples, longos e sonoros,
para que o amor entenda o olhar da serenata
batendo em sua pele e penetrando os poros
até que encontre o gozo e o sol da madrugada.

Quero os meus versos simples, sempre ao som da flauta-
doce. Tão doce quanto a língua e os meteoros
dos beijos que disseram tudo ou quase nada
ao tempo da paixão que sangra em desaforos.

E, quando a Estrela ouvir, que sinta a flor do toque
das minhas mãos sugando o sumo dos seus seios,
até que o som da flauta cesse, e um novo rock

retoque o seu sorriso em mil e um gorjeios,
para que à noite o sono nunca se equivoque
e possa repousar banhada em devaneios.

Dois Poemas de Lílian Maial


Almas Perdidas*

®Lílian Maial


Se a noite te serve de manto,
escondendo a mesquinhez e o desencanto,
estás perdoado de tudo,
pensas que não tem retorno.

Ledo engano...

Teus atos sórdidos e incautos
ficam gravados na tua mente
e, mesmo que finjas que não sabes,
sabes muito em que és impuro.

A maldade que brota de ti
não se contém ante a beleza,
não se contenta com a sina,
não se importa com a vida.

A crueldade e a inveja
fazem da alma um purgatório,
e a inquietude da tragédia,
da desdita e solidão,
são as pequenas infâmias
que te congelam o coração.

Se és infeliz e incapaz,
toma tua vida nas mãos
e muda o que não te satisfaz!

Não brinques de deus poderoso,
que decide sobre o bem e o mal,
que tua própria existência inócua
te aponta o Juízo Final.

******

*do livro “Enfim, renasci!” – editora Impetus

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Hipócrita

© Lílian Maial


Ai de ti, que te serves da hipocrisia,
que te vales da calúnia covarde,
do punhal de palavras,
que não te importas com a honra,
mas falas em nome dela,
que não ligas para a ética,
mas empunhas sua bandeira,
que não vives com a moral,
mas apelas para suas virtudes.
Ai de ti, hipócrita!
Que recebes o mal em tua casa,
adentra-o, obedeces a seus preceitos,
e o vendes como luz da vida.
Ai de ti, pobre coitado!
Que dizes ajudar ao mais necessitado,
no fundo, esmolando a toda gente,
enganando que amas,
quando, em verdade, mentes.
Ai de ti, hipócrita!
Salva tua alma, enquanto é tempo!
Expia tua culpa pelos sofrimentos,
os que impuseste ao irmão,
os que teu ódio fizeram fenecer,
pois que a vida te oferece todas as lições.
Ensinas as mentiras,
incentivas o mal, caiado de bem,
atiças o pecado e a maldade,
fingindo que ajudas,
que livras da perdição...
Ai de ti, hipócrita!
Que exploras teu irmão por vaidade,
que acusas de traição a liberdade,
que entregas à danação por ambição.
Ainda é tempo, hipócrita!
Arrepende-te de tua arrogância!
Usa a sinceridade e a tolerância!
Trabalha com afinco, que terás teu valor.
Não manches tuas mãos com o suor do outro,
não culpes, não cobres o que não tens para dar,
pois só é perdoado quem se arrepende,
só é amado quem ama sem restrição,
só alcança o topo, quem não comete difamação,
quem não mente, afinal, para si mesmo.
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Meu Dragão


© Nathan de Castro


Para relembrar paixões, abro a janela, o vento
traz torrões de terra e o pó
da estrada aos luares, onde danço na corda bamba
a solidão de um nó.
Algures desatadas, as minhas letras
fincam marcas de poeira, e só
nos sonhos e visões encontro o verso amigo,
para espantar o meu algoz.
De vítima eu me transformo em pincel-carrasco,
e um rio de poesia atroz
abala os meus pilares com canções de entulhos,
que deságuam em sua foz.
O meu dragão acorda e grita: —
A solidão é poluente de escrever poemas,
nada mais.

Para esquecer paixões, abro a janela,
apago a luz e a Estrela se desfaz
em rimas de quimeras e explosões de luas,
que presumem vida e paz.
Algures assustadas, as minhas letras
sangram versos na ilusão que traz
assoreadas veias, margens de afluente,
areia, terra, céu e mar.
Na loucura eu me disfarço em pincel-palhaço
e o meu disfarce é o verbo amar,
que invade os picadeiros com canções de lagos
que refletem o luar.
O meu dragão, calado, chora a solidão
desses luares de escrever poemas,
nada mais.

Por certo, a solidão tem cor,
e o dia aceita o brilho dos olhos do sol
nas folhas orvalhadas por lembranças
de verdes cantigas de arrebol.
Algures disfarçada, a poesia encanta-se
na voz de um rouxinol:
meu pássaro-dragão sem asas de palavras...
Minhas crenças pelo chão.
De pronto, abro a janela, a voz que escuto
não é a dela e a vasta escuridão
vem seduzir meus sonhos com canções
de madrugadas cheias de paixão.
O meu dragão acende a luz da Estrela: l
abaredas de escrever poemas,
nada mais.

Somente as tempestades podem me fazer feliz
nos veios das canções,
e pelas cachoeiras de poesia disfarço a dor
e abraço as emoções.
Algures resolutas, as minhas letras abrem valas
de enterrar paixões,
mas na terra o dragão navega na enxurrada
com seu barco de papel.
No barco, o meu poema vai buscar morada,
e da escotilha eu vejo o céu
a preparar palavras com canções de maré cheia
de esperança e fel.
O meu dragão, faminto, balanceia a minha
fé na areia de escrever poemas,
nada mais.

Nos palcos do soneto encontro a tempestade,
e a minha veia teatral
desfila com saudades de voar nas telas brancas
sem paixão e sal.
Algures satisfeitas, as minhas letras-ostras
fecham pérolas do mal,
e no mar o meu dragão festeja as labaredas
e disfarça a tal saudade.
Na solidão do cais, um barco de papel
surfa na onda que me invade,
como se fosse ele o dono das estrelas
de atracar felicidade.
O meu dragão navega e aporta caravelas-solidão
de escrever poemas,
nada mais.

O Meu Amor


© Nathan de Castro


O meu amor é um sonho... Uma mentira
que freqüenta a poesia dos meus dias.
Canção de estrela... Verso que transpira
saudades de compor todas as melodias.

O meu amor é a terra que suspira
quando recebe a chuva... A fantasia
da letra que me envolve e gira, e gira
e gira, registrando o olhar... Fotografia.

O meu amor é cacho da imaginação.
Cacho de uvas verdes nas latadas,
semente nos quintais de páginas viradas.

O grande amor?... Não digo. Eu sei paixão!
Todos os meus pomares, a invernada,
a pétala da Estrela e a Lua... Quase nada!

Brincar com as Palavras - Nathan de Castro // Brincar com Poetas - Lílian Maial


Brincar com as Palavras

© Nathan de Castro


Para escrever um poema com sabor de céu
há que brincar com as palavras.
Brincar com as palavras é fazê-las
dizer sim.
A palavra que diz sim está sempre
com um sorriso no rosto, mesmo na tristeza
das tardes de verão.
Mesmo quando lança o seu olhar assustado
sobre o poema de um planeta poluído
e despetalado.
Mesmo quando a saudade, a distância e a
solidão teimam em andar de mãos dadas
com as nuvens da estação.
A palavra é criança travessa, de calça curta,
sem camisa e pés no chão.
Criança que solta pipa, joga bola de gude,
corre pelos pomares da poesia e sobe no
topo da mangueira, para colher o único fruto
maduro. Palavra temporão.
As palavras gostam da chuva, de saltar
as poças d’água e caminhar nas enxurradas,
chutando o vento e sorrindo do arco-íris.
Às vezes, elas nos chamam a brincar de
pique-esconde. Ficamos horas a buscá-las
em pensamento, mas quando não querem...
Ponto. Melhor é deixar o verso de lado
e partir para o descanso nos lençóis da noite.
O sono sempre encontra a palavra no travesseiro
e acordar com a palavra certa é presente de sol
para os olhos de um poeta.


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Brincar com Poetas

© Lílian Maial


Para entender um poema com sabor de mel
há que brincar com o poeta.
Brincar com poetas é fazê-los ouvir as letras.
Ele escreve a palavra, mas nem sempre ouve
as letras.
Para ouvir as letras, há que ser surdo de regras,
há que ser cego de nomes,
há que ser mudo de risos.
Mesmo quando vê o vazio dos dias,
a lacuna de idéias,
a maldade dos homens.
Mesmo quando rabisca no peito um soneto,
quando entoa na alma a canção,
e insiste em ver lá dentro,
solitário coração.
O poeta é um velho levado,
meio senil, meio sério, meio assanhado,
mexendo com as rimas fáceis,
sonhando com metáforas virgens.
É um idoso sem tempo,
que não solta e nem prende, somente.
Ele vira de ponta-cabeça todas as vezes que
escreve.
Parece palhaço, parece parado, parece pirado.
Brincar com poeta é perigoso,
porque poeta leva tudo na ponta da faca,
na ponta da língua,
na própria palavra de dois gumes.
Poeta sonha que sonha,
enquanto diz as verdades e engole a peçonha.
Sem tempo ou lugar, poeta também gosta de brincar.
Ele brinca de estrela,
ele pisca a paleta,
ele chove no rio,
ele chora no mar,
ele pula a carniça que o verso mandar.
O poeta se esconde no pique da praça,
leva tombo nos cantos,
faz rir de pirraça.
Umas vezes é triste,
outra vez é moleque,
um tinhoso carente,
um castelo sem vela.
Ele finge que sofre,
ele mente que ri,
mas quando a noite chega,
ele olha pra lua,
ele rima comigo,
faz preces nos morros,
recosta na sombra,
que a noite é tão clara,
que o céu é tão grande,
que o sonho é tão logo,
que o sono já vem.
Brincar com poeta é conto de fada,
é cair na cilada de ver só o belo,
mas eu, a palavra, a pena e o passo,
sou mais como um trapo nos braços da fera.

Chuva no Telhado


© Nathan de Castro


O barulho da chuva no telhado
tem o som dos meus sonhos de criança.
No céu, as nuvens negras d'esperança
das trovoadas fortes do passado.

Cantigas de enxurradas pra lembrar
asfaltos que pisei nas caminhadas.
"Vinte mil léguas", sonhos sem chegadas,
Sininho, Peter... Músicas no ar.

Hoje os cabelos pratas de poesia,
molhados pelas águas do aluar,
se perdem pouco a pouco na folia,

que os ventos fortes teimam em soprar.
A chuva no telhado alivia
a saudade que teima em me afagar.

Friday, September 01, 2006

Soneto de Setembro


© Nathan de Castro


Com voz de trovoada e olhos de coriscos,
o céu de cara feia afugenta o soneto.
Arrisco-me no verso livre, em branco e preto:
cantigas de setembros, chuvas e rabiscos.

Sinais de tempestades, flores, borboletas?
Versos de folhas verdes nas mãos do Poeta?
Quiçá, quem sabe a terra ensinando-me as letras
das cepas dos coqueiros de praias desertas?!

Canções de erva-cidreira, picão e canela,
remédios para curar as paixões de agosto...
Sementes nos canteiros de eterno desgosto?

Verso livre com cheiro de amor — primavera —
abóbora madura (onde estão minhas feras?).

Silêncio, outro soneto, e um sorriso no rosto.