Monday, August 28, 2006

Soneto Urgente


© Nathan de Castro


Fazem-se urgentes, o abraço de acalmar a alma,
o travesseiro e o ombro amigo do melhor
amigo. No poema, o amor sem dor ou trauma,
para que o verso aprenda a paz em sol maior.

Fazem-se urgentes, a música dos olhos dela,
a cotovia e o beijo surdo do silêncio
amigo. No poema, a voz que canta a estrela,
no imprescindível chão da flor de amor do Cântico

dos Cânticos. Faz-se urgente a lua cheia,
carpindo os espinheiros de palavras tortas
e, independente, da poesia sempre alheia,

faz-se urgente abrir de vez minhas comportas.
Tanto me falta, tudo é urgente, e volta e meia,
esqueço que a vontade é a chave dessas portas.

Monday, August 21, 2006

Amor Tecer


© Marco Antonio Rosa


Tecer o amor com fios de segredo,
qual tecelão que sonha e devaneia,
é conhecer o som da dor do medo
de a morte ser voraz como uma teia.

Amor tecer sem conhecer a vida,
cedo escondida, até o amor te ser
mais que certeza, é se perder no tempo
em que depressa acontece o amor,

E tece o tempo, o sonho, a vida, tudo,
amor tecendo, ao longo do caminho,
a morte sendo o sentimento mudo,
te sendo o amor quem te fez tão sozinho.

Soneto Passarinho


© Nathan de Castro


Meus versos bem-te-vis pardal chocou,
e bem que eu vi no ninho um tico-tico
que guardava a poesia no seu bico,
como quem guarda o sonho que encontrou.

Meus versos sabiás, — mamão maduro —
comida de sanhaços e rolinhas
nos pomares -sonetos de "abobrinhas"
que arranco do meu lado mais escuro.

Meus versos pica-paus de bananeira
que já deu flor e frutos aos poetas
canários, curiós e beija-flores,

procuram descrever de outra maneira,
sem nem pensar se as formas são corretas
ou se a poesia exige novas cores.

Saturday, August 19, 2006

Somente a Certeza do Verso e da Flor


© Nathan de Castro


Quisera a certeza dos olhos dos loucos
que voam na chuva e navegam no ar,
mas bebo a tolice que alimenta aos poucos
o meu comodismo neste abaloar.

Quisera a esperança dos olhos dos loucos
que vagam, felizes, no céu a buscar
os sonhos que os tolos enterram aos poucos,
- se esquecem que podem sorrir e sonhar.

Por certo, a esperança seria a semente
nos meus pensamentos, brotando sem dor,
sem água, sem ar, sem veneno aparente...

Somente a certeza do verso e da flor!
Tolice é conforto, loucura é somente
voar, navegar pelas praias do amor.

Friday, August 18, 2006

Nem Mesmo os Sonetos


© Nathan de Castro


Procuro um poema de formas perfeitas,
na medida certa dos teus lindos seios
e no qual os versos ensinem os veios
e os trilhos do vale da cama onde deitas.

Procuro um poema de rimas vermelhas
com sabor-pecado do beijo e os batons,
marcando uma tônica que espalhe os sons
de palavras quentes, faíscas, centelhas.

Metáforas negras da cor dos cabelos
e frases...Perfumes de flor-sedução
nos olhos bandidos que, para entendê-los

nem mesmo os sonetos que trago nas mãos.
Explico, complico e para absorvê-los,

por certo, na morte, talvez, na canção.

Thursday, August 17, 2006

Soneto Para Pagar Mico ao Chico


© Nathan de Castro


Agora eu era apenas um poeta
que não sabe escrever em japonês
e a noiva veste as roupas da caneta:
azul, vermelha, preta e as outras três.

Agora eu fui rainha do planeta
e a minha lei é o canto em português.
Não sei feliz, mas trago na gaveta
uns versos infestados de porquês.

O meu cavalo tem a banda larga,
não trota, não cavalga e o velho Chico
ele atravessa numa só descarga...

Cow-boy mineiro, um dia sou tão rico,
no outro, roubo uns versos, perco a carga
e sigo a poetar pagando o mico.

Wednesday, August 16, 2006

Soneto à Luz de Velas


© Nathan de Castro


Quando um canto cigano se me aporta e pede
a seda, o véu, a tenda dos amores feitos,
para cumprir o encanto e o sol dos rarefeitos
momentos de poesia, lanço a minha rede.

O taça, a roda, o ópio, os teus trejeitos
invadem o silêncio, deitam-me esta sede
do beijo e do momento louco que antecede
à música dos olhos... Cristais satisfeitos!

As velas incendeiam a saudade, a cama
inda guarda o perfume, o mel, a flor da chama,
que clama pelo corpo e a morte na paixão...

Vem, meu amor, a noite é fria, ora declama
um verso de edredom que veste o sol e inflama
o peito de um poeta torto e sem razão.

Tuesday, August 15, 2006

Escandindo Saudades


© Nathan de Castro


Por que não me fizeste prisioneiro
no instante em que esqueci da confiança
e o medo se instalou no olhar do arqueiro?...
-O meu cupido ainda era criança!

Por que não exigiste um mensageiro
levando-me castelos de esperança:
um verso, um beijo, um cântico primeiro?...
Por que não me deixaste uma lembrança?

Passaram-se as estrelas e, hoje sigo
escandindo os motivos da saudade...
Nem sei falar de amor sem a viagem

que invento à cada verso que castigo...
No peito a tal paixão faz tempestade
e a rima fica, assim... Feita voragem.

Monday, August 14, 2006

Sossegue, Coração!


© Nathan de Castro


Sossegue, coração!... Deixe a poesia
brincar nas coronárias machucadas
e não se entregue à eterna melodia
dessas tolas paixões desesperadas.

Sossegue, coração!... Não suba escadas
saltando por degraus... A arritmia
é o fruto dessas pressas inventadas,
para cumprir momentos de euforia.

Sossegue, coração!... O olhar da Estrela,
distante, nem percebe o descompasso
e segue iluminando outros espaços...

Sossegue, coração, quero revê-la!
Não mude os sons e o ritmo dos passos,
nem pare de bater antes do abraço.

Saturday, August 12, 2006

Papai... Papai.


© Lílian Maial
Pai, meu papai,
Não foi de dentro de tua barriga que saí,
Nem de teu peito que me alimentei.
Não foi em teu útero que me encolhi
E nem em teu seio me acalentei.
Mas tanto me deste de amor,
Tanto me ofertaste de exemplos,
Que em teu colo macio adormeci,
Que em teus braços mais fortes me protegi
E em teus olhos mais serenos me encontrei.
Foste tu, meu pai,
Que me ensinaste a galgar degraus.
Foste tu também que me mostraste os homens maus.
E em tua trilha ergui meus sonhos,
E em tua vida refiz meus planos,
Para ter mais acertos, evitar enganos.
Através de tuas mãos escrevi teu nome,
E hoje o carrego com orgulho,
O mesmo orgulho com que apostaste em mim.
Cresci, meu velho, de bem com a vida,
Cantando tuas músicas, Assoviando tuas melodias,
Para, quem sabe um dia,
Ensinar aos meus filhos o saber do avô,
Que preferiu provar da fruta,
Mesmo amarga,
Que viver sem seu sabor.
* Lílian Maial 13/08/00 Uma doce e singela homenagem
a todos os pais! Com carinho.

Soneto Para o Meu Pai


© Nathan de Castro


Os óculos, ponteiros e as imagens
gravadas mostram ruas e igrejas.
De bicicleta, a pé, suas pelejas:
viagens, rios, serras e paisagens.

Cascalhos e poeira, tantas cores,
estradas, vilarejos, natureza.
Seus mapas espalhados sobre a mesa:
cantigas pra ninar poesia e flores.

Homem de fé e amigo das estrelas,
histórias da mãe Terra me contou
com tanta precisão, que pude vê-las.

Vivê-las quis e o sonho me encantou.
Se hoje eu passo a vida a absorvê-las,
é que aprendi o amor que ele ensinou.

Friday, August 11, 2006

Soneto Breve


© Nathan de Castro


É breve o tempo e a música que toca
na brisa das manhãs de passarinhos,
soprando esta vontade dos caminhos
do corpo, e o beijo doce em tua boca.

É breve este soneto em desalinhos
que a mão do acaso afaga e não retoca
e o verso aceita o risco que provoca
delírios nas canções dos nossos linhos.

Silêncio nos lençóis. Ficaram marcas,
a frase, o porto e a aurora apaixonada
brincando nas paixões da madrugada.

Não sei quando partiram nossas barcas,
só sei da eternidade da alvorada
que acende esta saudade e a passarada.

Thursday, August 10, 2006

Um dia eu fui poeta


© Nathan de Castro


Trago nas mãos palavras repetidas
por séculos e séculos, e ainda virgens:
-Te amo meu amor, tu és a minha vida,
meu sonho de luar, minhas vertigens.

Loucura?... Quem diria, as águas distraídas
não sabem dos desertos e miragens
nestas tolas canções contemplativas,
que buscam no poema as luzes das mensagens

escondidas nas pedras do planeta.
Planeta sem os teus olhos?... Ah, poesia! Errata.
Só queria dizer que, um dia, eu fui poeta

nos braços da paixão desesperada.
Silêncio!... Solidão, empresta-me a caneta
do derradeiro verso à eterna namorada.

Wednesday, August 09, 2006

Poesia é Para Viver


© Nathan de Castro


Faz frio lá fora e, hoje, resolvi brincar
com Natália e, em “Defesa do poeta”, digo:
oh! Desagasalhados dos sonhos, a poesia é,
também, para vestir.
E que seja tecida em lã ou algodão,

artesanalmente.
Nada de industrial. Poesia não se fabrica

em série e não precisa de etiquetas com
recomendações de lavagem a seco,ou qualquer
outra forma.
Poesia não é para lavar.

Ela está sempre limpa e pronta paraser vestida,
e quanto mais, mais alva, brilhante e iluminada.
Mas banho de poesia é indispensável. No mínimo,

duas vezes ao dia.
Poesia é também para beber, em copos de cristais

ou até mesmo em poças d’água, saboreando cada
gole, como na leitura de haicais.
Poesia é para respirar.

Evite as poluídas com palavras de gás carbônico
ou quaisquer outros elementos que agridam
a natureza.
Poesia é para viver.

Se a fome de poesia pede o pão
e a sede chama as águas do poeta,
preparo a prosa, as rimas de feijão
e um haicai bem gelado, de seleta.

Se o frio bate às portas da estação
Não deixo que ele entre na gaveta,
visto um novo soneto, de algodão,
ou vôo um verso livre... Borboleta.

Tudo é questão de sonhos. As canções
dos dias pedem contos e romances
com banhos de poesia, a cada instante.

A vida é a busca infinda de emoções
e quem respira versos tem mais chances
de naufragar na barca dos amantes.

Tuesday, August 08, 2006

Para Voar ao Encontro da Poesia


© Nathan de Castro


Quero morrer nos braços de um poema livre
e despertar nas telas de um velho soneto
na espera de que a mão da noite não me prive
das luas e emoções da letra em branco e preto.

Não quero a proteção do acaso ou do destino,
que sempre me negaram o verso completo,
apenas a ilusão, o sono, o sonho e o tino
para voar ao encontro de um canto de afeto.

Flores de laranjeiras, sombras de pomares,
cheiro de terra verde, orvalhos, madrugadas
e a liberdade, enfim, para explodir estradas...

Sem rumo e tempestades, navegar por mares
onde as canções de amor para a mulher amada
são mais do que canções... São pétalas do nada!

Monday, August 07, 2006

Tiziu


© Nathan de Castro


Passarinho preto de cantiga chata,
vive a repetir a mesma ladainha.
Dá um pulo, bate as asas e arremata
o trinado triste da canção que é minha.

Por direito insisto: — Esse verso é meu!
Verso-plágio é crime que resolvo a bala.
Faça-me o favor, sua cantiga encheu,
por que não imita o pavão de bengala?

Deixe que as paixões e rimas repetidas
destes ternos pretos de tristezas mil,
sejam sempre os mantos das minhas feridas.

Desfile vaidades, nunca mais, Tiziu.
Vista novas roupas, todas coloridas,

e aproveite os ventos nos céus do Brasil.

Aconteceu!


© Rosa Pena

"Ninguém tira do amor
Ninguém tira pois é
Nem doutor nem pajé
O que queima e seduz enlouquece "
(Quando o Amor Acontece/ João Bosco)


Quando acontece o amor? A gente fica abestado né?
O riso solto, a piada sem graça toma gosto,
o telefone vira utensílio indispensável,
o relógio um controvertido, uma hora é paralítico,
na outra maratonista, o tempo um louco, mãos frias
no verão, bochechas ardentes no inverno, o apetite
um insano que pede moqueca de madrugada e você nem
sabia que gostava tanto de azeite de dendê,
o coração vira um aquário cheio de borbulhas
ansiosas, os olhos se tornam condescendentes,
choram com a morte da formiga e acham lindos
os muros pichados com declarações, os ouvidos
ficam tolerantes até com o Leonardo gritando
"é o amorrrrrrrrrr". A vovó deixa de ser muito
careta, o sobrinho pode até puxar as orebas do
seu cão, que você jura que foi com boa intenção.
O ciúme muda de nome, passa a ter o codinome de
inveja branca (pobres daqueles que não sentem
o que você está sentido).
O perdão fica fácil, a raiva muda de planeta,
os anjos tocam jazz nas trombetas para comemorar
essa festa, as cores fogem das palhetas para vir
colorir nosso lugar.

Olha que linda borboleta meu amor!
Deus a fez para nós ou nos fez para ela?

Saturday, August 05, 2006

Pretérito Imperfeito - Lílian Maial /// Gavetas - Nathan de Castro

Pretérito Imperfeito

© Lílian Maial


agudas esquinas, vultos em outdoors
passos imersos no passado
rostos estranhos
colo vazio
antiga música a machucar saudade
e um gosto acre-doce do que seria
velho leite derramado

há dias em que as lembranças
não deveriam pular da gaveta

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Gavetas

© Nathan de Castro


Confesso que esqueci os teus olhos no riacho
de cachoeira e pedras de escrever serestas,
e guardei os meus versos tolos nas gavetas
como quem guarda um feixe de luz das estrelas.


De cima dos penhascos vislumbrei palavras
e pisei duas águas antes de banhar-me
no poço dos luares que escondi nas letras,
para ferir os pés sem acionar o alarme.


Perigo!... A terra gira as páginas de aquário
e corre de mãos dadas co’as águas ligeiras,
que buscam pelos mares de ondas altaneiras.


Gavetas guardam sonhos, versos e saudades,
não sabem nosso tempo e a cor da liberdade.
Deveriam guardar águas de cachoeiras.

Folhas Secas


© Nathan de Castro


O frio chegou.
As cacatuas foram dormir mais cedo e hoje,

não ouvi as suas algazarras.
No quintal ladrilhado, as folhas secas da

castanheira bailam ao vento fazendo um barulho
de folhas secas nos ladrilhos.
Brincadeiras de redemoinhos.

Movimentos de poesia que enfeitam
o silêncio da noite e, que além das folhas,
derrubam os frutos maduros, espalhando
as castanhas que as cacatuas tanto gostam.
A lua cheia esconde-se por trás das nuvens que

se preparam para a chuva, formando anéis de luzes
desconhecidas e novas cores.
Pedaços de poemas encobrindo o infinito mar de

estrelas. Palavras de poesia na página do tempo.
Palavras que rolam pelo chão e que sabem a semente,
a florada e o doce sabor dos frutos.
Sabem todas as estações e todas as luas.

Lua, lua, lua,
a castanheira desfolhada
tem frutos maduros!

Thursday, August 03, 2006

Não Aprendi a Voar


© Nathan de Castro


No silêncio das pedras de um riacho,
rabisco estes sonetos sem sentido,
e as letras nas encostas do penhasco
são lascas dos meus versos distraídos.

Cascalhos que colhi nas águas rasas
do leito assoreado de um cometa:
não aprendi a voar, não me dei asas,
voar, voei!... Loucuras de poeta.

Voei de braços dados com estrelas,
ao som do mar e ao sol de sal e areia,
num vai e vem de luas e aquarelas.

Hoje, descanso os passos na palavra,
à sombra da poesia e, volta e meia,
acordo olhando a terra pendurada.

Wednesday, August 02, 2006

O Tempo da Paixão


© Nathan de Castro


Quando em silêncio visto a fantasia
de um sonho amarelado, perco a hora
do trem fantasma e a rima sangra e chora,
deixando o frio, as tumbas e a fobia!

Velórios não me encantam, mas lá fora
a procissão das quadras faz folia
e bailando em meus palcos, sentencia:
__O tempo da paixão é aqui e agora!

Ah!... Meu amigo, não percas a aurora,
pois as canções nas mãos dessa Senhora
do tempo, são fiéis à sinfonia...

Veste o momento e o traje que apavora,
deixa o medo de lado e a poesia,
cumpre, antes que se apague a luz do dia.

Tuesday, August 01, 2006

Soneto Para Dizer Nada


© Nathan de Castro


Somente o verso acalma o meu poeta
e acende a passarada das manhãs.
Voar fica mais leve se a caneta
sabe a saudade e o gosto das maçãs.

O amor foi um presente e me completa,
mesmo perdido e longe das canções...
A vida sem paixão é paz deserta,
sem lágrimas, perfumes e emoções.

Feliz, busco a palavra que não disse,
e digo nada... E nada é muito mais
do que todas as letras que cumprisse,

para enfeitar meus cantos madrigais.
Tenho a emoção do verso e essa doidice
de ver uns colibris nos meus umbrais.